Com base no conceito clássico de democracia, “regime político em que a soberania é exercida pelo povo”; ou, “regime político em que o poder pertence ao povo”, no qual ainda se inclui o direito à liberdade e direito de escolha, analisemos a situação política do cidadão brasileiro.
Aos dezoito anos, ele atinge a maioridade, assumindo obrigações perante o estado e a sociedade. Com relação à política, é-lhe imposta a obrigação de alistar-se como eleitor. Como se vê não é um direito, pois não pode se recusar ao alistamento, que o obriga a comparecer a todas eleições até completar setenta anos, quando então sessa a obrigatoriedade. Se não comparece à sessão eleitoral, é punido com multa, ridícula na verdade, mas que não deixa de ser punição por não ter comparecido para cumprir uma obrigação, que ainda teimam rotular como “direito”. Se não comparece e não justifica o não comparecimento, pagando a multa, pode sofrer outras sanções.
Diante da urna, ele tem privacidade e liberdade de escolha, mas os candidatos apresentados, são previamente escolhidos por terceiros, num processo completamente alheio à sua vontade. Em gozo de privacidade e de liberdade de escolha, o eleitor tem três opções: votar num dos candidatos, votar nulo, ou votar branco. Embora não o obrigue, concedendo-lhe privacidade e liberdade no momento de votar, o sistema induz o eleitor a escolher um dentre os candidatos, ainda que nenhum deles, segundo avaliação do eleitor, mereça o voto. O eleitor não tem participação na escolha prévia dos candidatos, razão pela qual pode acontecer de nenhum dos candidatos, satisfazer sua ideia de um bom candidato. Ele pode votar branco, mas o voto branco é voto de conformista, de eleitor que não se importa com o resultado da eleição. Para o eleitor conformista qualquer resultado está bom. A tecla do voto branco está ali, à disposição, mas se o eleitor tem consciência de sua responsabilidade, ele não a aciona.
O sistema quer que o eleitor vote em alguém, mas se ele não aceita nenhum dos candidatos, pode votar branco. O voto não serve a ninguém, mas o vencedor da eleição dele se apropria, pois o voto branco significa concordar com qualquer coisa, ainda que seja o pior. Por não concordar com qualquer coisa e não querer ficar em cima do muro, o eleitor descarta o voto branco e pensa em anular, mas contra isso vem uma vozinha, lá do seu íntimo, a dizer que cidadão democrata não anula voto, pois isso coisa de comunista; votar nulo é trabalhar contra o país; voto nulo é voto alienado, não é próprio de cidadão consciente. Por ter sido ali inoculada, pelo sistema, como um dogma perpetuado através de gerações, a ideia negativa do voto nulo chega a parecer-lhe fruto de sua própria avaliação. O sistema insiste em que ele deve votar em alguém, pelo menos, no menos ruim. Se nenhum dos candidatos tiver uma ficha boa, ainda assim ele tem de escolher e votar num; é o que determina o sistema. O eleitor se vê num dilema. Que fazer?
A título de ilustrar a situação em que fica o eleitor diante do que se lhe apresenta, suponha-se o seguinte: diante dele, o eleitor, estão três candidatos. O primeiro corresponde à figura do demônio; o segundo corresponde à figura do diabo; e o terceiro, à figura do satanás. Qual o menos ruim a receber o voto, de acordo com a orientação do sistema? Esta é a triste realidade!
O eleitor brasileiro está preso num labirinto, onde nada pode fazer e de onde não há como escapar! Se eleito um dos três hipotéticos candidatos que, depois de empossado, começa a fazer m… o eleitor é rotulado culpado, por não saber votar, ser analfabeto político e tororô e tororó. O pior de tudo é que, tão influenciado pela campanha mantida pelo sistema, o eleitor acaba por acreditar que a culpa é mesmo sua. Mas, como? Se não lhe é dada oportunidade de fazer melhor…. Fez o que lhe ordenaram fazer, ou seja, comeu do prato feito, que lhe apresentaram! O político eleito continua a fazer bobagens, no exercício do mandato, mas o eleitor nada pode fazer, senão aguardar providências dentro do sistema, cujo emaranhado de leis pode proteger o político corrupto.
Diante de toda essa situação, quando, onde e como o povo está a exercer o poder? Sem falar em outras mentiras e promessas vãs feitas por políticos, o povo é manipulado pelo forte esquema partidário de braços dados com interesses de grandes conglomerados econômicos. A democracia cantada em prosa e versos está apenas no papel!