Bom dia! … Boa tarde! … Boa noite! … É assim, de acordo com a posição da terra em sua rotação, a saudação que nos dirigimos, no dia-a-dia, uns aos outros, quando nos encontramos ou nos vimos. Pode ser na chegada ao trabalho, na chegada à escola, na entrada da loja e das repartições, como também nos encontros de rua. Formal ou de maneira esfuziante, especialmente o “bom dia”, logo ao amanhecer, a saudação tem a propriedade de estimular, reavivar e dar forças ao prosseguimento na jornada que, a depender da pessoa, pode incluir diversidade de projetos e interesses pessoais, além do muito que pode conceber e construir em termos coletivos.
Em todas as línguas, com ligeiras variações, as pessoas se saúdam dessa forma no mundo inteiro. Tido como procedimento educado e de cortesia, próprio do mundo civilizado, o cumprimento individual é muito mais que isso, só não alcançando seu verdadeiro sentido, na interação humana, os que na espécie vivem, mas dela se acham desconectados, pois costumam estar voltados para si próprios, como se únicos fossem na face da terra. O cumprimento individual representa um desejo de sucesso, em todos os sentidos, ao semelhante. Não é simples formalidade e, talvez, por assim ser considerado, o cumprimento, eventualmente é rejeitado mediante resposta com grunhido entre dentes, quando não respondido com o silêncio, tanto insultuoso quanto o são palavras do gênero proferidas em seu lugar.
O cumprimento individual é uma extensão do sentimento de fraternidade, latente em todos os indivíduos, infelizmente nem sempre compreendido, deixado de lado como algo desnecessário e obsoleto, ou repelido preconceituosamente como entrave ao sucesso. Na verdade o visto como entrave é alimento do sucesso de cada indivíduo, desde que se aceite a ideia de que os seres humanos são todos interdependentes; tão interdependentes, que ninguém alcança a celebridade, isolado do mundo; de nada adianta o dinheiro se não há como aplicá-lo, com quem ou em que gastá-lo! Veja-se, por exemplo, a múltipla crise, da qual está difícil o país sair. Ela só se instalou devido à interdependência, no momento em que graves fatos negativos desviaram o país da estabilidade, mas será também devido à interdependência, que tudo poderá se normalizar, a partir de ações positivas empreendidas com aquele propósito.
Portanto, desejar o sucesso para o semelhante é chamar a si o próprio sucesso! Também chama a si o fracasso quem se exulta com o fracasso do outro. Quanto a isso, há que lamentar o regozijo popular, tão comum ao término de grandes julgamentos, quando criminosos são condenados pela Justiça. Casos houve em que a condenação do réu chegou a ser motivo para foguetório; lance de insanidade coletiva a reclamar bom senso, ponderação e, sobretudo caridade cristã. O fato de alguém sair de um Tribunal do Júri condenado, por muito grave tenha sido seu crime, não é para ser comemorado com alegria! O crime pede reparo e a Justiça deve aplicá-lo, de acordo com a Lei, mas a sociedade há que compreender, que toda vez que isso acontece não é somente o criminoso que paga, porém toda a sociedade, de uma forma ou de outra, pois o agente do crime é também parte dela; aceite-se ou não essa verdade! Exigir o cumprimento da lei, exigir punição, sim, está em seu direito o cidadão que assim procede, mas ir além desse ponto e ainda tripudiar sobre o vencido ou se comprazer com a desgraça alheia não condiz com o direito e nem com o espírito cristão.
Um tumor é formado, no corpo, com as próprias células deste e, quando conseguida com êxito, sua extirpação não representa a restauração plena e retorno do corpo à condição cem por cento saudável. Ainda que o órgão atingido se recupere e volte a funcionar, no ser psicológico fica registrada a anomalia extirpada, que pode gerar tensão ante possibilidade de novo tumor.
Um “bom dia” sincero, de boa vontade, é como uma oração, ainda que o praticante seja incrédulo e não confesso de alguma corrente religiosa. O mesmo não acontece ao conflitante com o princípio da fraternidade, vestido com a capa da hipocrisia e deslealdade, a ostentar sorrisos, mão estendida e cumprimentos, tudo numa só falsidade. É blasfêmia, sobretudo quando assíduo aos sacramentos ou aos cultos do seu círculo religioso.