Tudo o que se disse até agora a favor do voto nulo pode se resumir numa posição política, dentro do regime democrático: é uma opção, uma opção entre aprovação e reprovação. Não considerar o voto nulo como expressão da vontade do eleitor, deixar de aceitar seu NÃO, impondo-lhe, ainda que dissimuladamente, a obrigação de votar em algum candidato, viola o direito de opção, entre o SIM e NÃO.
Insinuar, induzir ou levar o eleitor, por qualquer meio, a escolher um entre os candidatos apresentados é interferência no que cabe a ele decidir. Então são duas violações: a primeira, quanto ao direito de anular, a segunda, quanto ao direito de ter sua vontade considerada na apuração.
Temos, então, um paradoxo que não é próprio da democracia, porém nela enxertado sob a máscara da segurança democrática, para cumprir a função de garantir a predominância da vontade partidária, por sua vez usurpadora da vontade do povo, da sociedade como um todo.
O voto, em princípio, deveria ser na democracia, pela democracia e para a democracia, que implica em SIM, ou NÃO, de acordo com a vontade de cada eleitor, mas o sistema não a tem (a democracia) como fim e, sim, como meio de sustentação das estruturas partidárias. Tal como se pratica, o voto é dado a partidos por intermédio dos políticos a eles filiados, que chamam a si a função de decidir políticas, programas, diretrizes, tudo em detrimento do que possa constituir os anseios da sociedade, da nação. Se democracia há, ela está restrita ao âmbito partidário onde, independentemente da diversidade de partidos e posições ideológicas, todos se irmanam em prol dos próprios interesses. É só se lembrar das ocasiões em que votam algo diretamente ligado aos seus interesses, seus subsídios (erroneamente chamados salários), por exemplo; votam, de preferência, nas chamadas “horas mortas”, sem qualquer discussão. É por isso que o sistema não aceita o voto nulo (vide urna eletrônica) e sempre deu combate por meio da rede de ensino, por meio da mídia e pelos próprios mais interessados, os políticos. A democracia que se pratica é fechada, ainda que com ligeiras variações, Estados Unidos, por exemplo, mas em qualquer parte do mundo, está limitada pelos partidos políticos, que não abrem mão do poder que têm dentro de cada sistema, em vigor, em diferentes países ditos democráticos. Em suma quem manda são os partidos, embora digam que o sistema democrático é governo do povo, pelo povo e para o povo; pura conversa fiada! Em qualquer sistema, dito democrático, em vigor vive-se uma ditadura partidária. É a verdade, nua e crua, que poucos têm a coragem de admitir, de dizer e, muito menos, de questionar!
Entorpecidos pela propaganda, ao longo dos séculos de funcionamento do sistema, no mundo, louvamo-lo por nos garantir, a livre iniciativa, a liberdade de expressão e uma série de outras vantagens, entre as quais o tão decantado pluripartidarismo, outra enganação. Mas, democracia não se limita a tão somente isso. A democracia, acima de tudo o mais, implica no direito de cada cidadão participar, ativamente, da política, candidatando-se a cargos eletivos e à altura de sua competência.
Tente alguém candidatar-se a vereador, o menor cargo eletivo dentro da hierarquia administrativa do estado brasileiro. A suprema condição a ele imposta é a filiação partidária. Se não filiado a um dos partidos, pode esquecer, não há como exercer tal direito político, sem entrar na “panelinha” partidária! Se a vontade (não o ideal) for grande, ele ou ela se filia a uma das agremiações, mesmo sem concordar com o respectivo estatuto e linha ideológica. Assim como o eleitor, de acordo com o sistema, “deve votar” em alguém, ainda que no “menos pior”, o pretenso candidato tem de se filiar a partido, também ainda que o “menos pior”.
Como, então, classificar isso democracia? Só mesmo por hipocrisia política! A diferença entre o poder político, no pluripartidarismo e no unipartidarismo (partido único), é que neste último, o poder tende a se perpetuar nas mãos daquele partido, podendo, ou não, trocar os agentes políticos, à conveniência da política local. No pluripartidarismo há possibilidade de revezamento periódico dos partidos no poder, variando-se então o modo de conduzir a administração pública, de acordo com a “filosofia” do partido vencedor nas eleições. Em ambos os sistemas, a sociedade é dividida. No sistema unipartidário, é dividida em duas correntes: os filiados ao partido dominante e os não filiados. Os filiados gozam de alguns privilégios, incluindo-se aí a subida na hierarquia do partido, de acordo com os serviços prestados ao mesmo. Aos não filiados cabe tão somente seguir, à risca, as normas ditadas, porque fora do partido não há concessão.
PARTIDOS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!