Imagem: Marcos Delamore / Marcos Delamore
Celebrado nesta quinta-feira, dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra enaltece o legado histórico e a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e um dos líderes mais importantes do movimento negro no combate à escravidão e ao racismo no Brasil. A data também é um convite à valorização da história e da cultura afro-brasileira, além de estimular reflexões sobre representatividade e igualdade racial no país.
A cidade de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, grava o preto em seu nome e o legitima em suas raízes históricas. De acordo com o Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 70% da população do município se autodeclara não branca. Ou seja, dos 74.824 habitantes, aproximadamente 52 mil pessoas se reconhecem como pardas, pretas, amarelas ou indígenas.
Para o diretor de Igualdade Racial da Prefeitura Municipal, Kedison Guimarães, o dia é marcado pelo reconhecimento da riqueza da cultura africana e sua importância na formação da identidade brasileira. “Nessa terra, onde Chico Rei enraizou toda a sua ancestralidade, nós, pretos e pretas, continuamos rompendo barreiras e construindo pontes, para que possamos, cada vez mais, promover a equidade e igualdade racial nessa nossa Ouro Preto que é preta. O povo preto de Ouro Preto é ouro”, declarou Kedison.
Chico Rei é um personagem lendário da tradição oral mineira desde o século XVIII. Galanga, seu nome de nascimento, era rei do Congo, na África, mas foi raptado pelos portugueses, em 1740, para trabalhar na Mina da Encardideira, na antiga Vila Rica, atual Ouro Preto. A sabedoria e os esforços de Francisco, como foi rebatizado, fez com que ele comprasse a sua própria alforria, a de seu filho e, posteriormente, a liberdade de seus companheiros. Com o passar do tempo, o então aclamado pelos alforriados, comprou a mina na qual trabalhava e a renomeou para Mina de Francisco, o rei.
A Câmara de Ouro Preto realizou, em 19 de novembro, data que antecede o Dia da Consciência Negra, a sessão solene de entrega da Comenda Liberdade Chico Rei. A honraria é destinada a homenagear personalidades e instituições que tenham desempenhado ações para o reconhecimento e o desenvolvimento da Promoção da Igualdade Racial no município de Ouro Preto.
Em entrevista ao jornal O Liberal Inconfidentes, o vereador Alex Brito (PDT) reforçou o papel da Câmara na defesa das lutas antirraciais em Ouro Preto. “Vários dos nossos projetos foram voltados para essa pauta, como o Dia de combate a intolerância e ao racismo religioso contra as religiões de Matrizes Africanas, Afro-Indígenas e Afro-brasileiras e nações. Que não seja somente no dia 20 de novembro o dia da igualdade racial, mas todos os dias”, ressaltou.
Um dos representantes do Coletivo Outro Preto, Douglas Aparecido, conversou com O Liberal e destacou o cenário da questão racial no Brasil e em outros países. “Em um primeiro momento, o movimento negro, em um aspecto político, busca garantia de direitos. Para além disso, as cotas abrem perspectivas para uma nova forma de pensar o país, uma vez que indivíduos que eram tratados como objeto de estudos, passam a ser pesquisadores, estudantes e a trazer outras perspectivas de interpretação e análise da história do país. Em Ouro Preto, as coisas estão avançando nesse sentido e estamos conseguindo superar os desafios”, disse.
Para celebrar essa data comemorativa e rica em importância cultural e tradições da identidade negra, a Prefeitura de Ouro Preto realiza a Semana da Consciência Negra, de 20 a 27 de novembro. A programação, promovida com apoio da Secretaria de Cultura e Turismo, desenvolve atividades gratuitas, organizadas em locais de grande relevância histórica e social, como a Casa de Cultura Negra, no bairro Padre Faria, e a Câmara Municipal, na Praça Tiradentes, no coração da Cidade do Património Mundial.
O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo (PV), destacou os 20 anos da mudança da bandeira da cidade. “Há quarenta anos, como presidente do Iphan, fizemos o tombamento da Serra da Barriga e do Quilombo de Palmares, para considerarmos ali um local patrimônio cultural e histórico do Brasil, reconhecendo a sua importância. Completam-se 20 anos do gesto histórico de revisão do lema da bandeira do município. ‘Precioso, ainda que preto’, marcado pelo sentido discriminatório, foi substituído por ‘Precioso Ouro Preto’, reafirmando a dignidade, identidade e respeito às raízes afro-brasileiras que moldam a história da cidade”, afirmou.
Programação:
23/11 – DOMINGO
‘‘Roda de samba é Filosofia do samba e seus fundamentos – Memória, ancestralidade e patrimônio”
Local: ao lado da Sede da Escola de Samba Unidos do Padre Faria
Horário: 16h
24/11 – SEGUNDA-FEIRA
Abertura da Exposição e Performance: ‘‘Hip Hop na APAE Ouro Preto’’
Local: Casa de Cultura Negra – Padre Faria
Horário: 18h
25/11 – TERÇA-FEIRA
Ação Performática “Mulheres do Lar – Mortes anunciadas” com Lucimélia Romão
Local: Casa de Cultura Negra – Padre Faria
Horário:
26/11 – QUARTA-FEIRA
Roda de Conversa “Mulheres que mandigam com o Sagrado” com Luana Mol, Marize Guimarães e Lolô Nagô
Local: Casa de Cultura Negra – Padre Faria
Horário: 19h
27/11 – QUINTA-FEIRA
OURO NEGRO, MEMÓRIA VIVA – 20 anos da mudança do lema da bandeira de Ouro Preto (2005–2025)
Local: Câmara Municipal de Ouro Preto
18h30: Abertura Solene: hasteamento da bandeira com o lema atual e execução do Hino Nacional
19h: Mesa de debate “Símbolos, memória e reparação: 20 anos da mudança da bandeira de Ouro Preto”