Imagem: Marcos Delamore / Por: Marcos Delamore
“Esta é a sirene que deveria ter tocado no dia 05 de novembro de 2015. Ela não evitaria o rompimento da barragem, mas teria evitado a morte de dezenove pessoas”. Assim iniciou o ato simbólico “Toque da Sirene”, em Mariana (MG), em memória das vítimas da maior tragédia socioambiental da história do Brasil.
Em meio ao silêncio, o alerta que nunca foi acionado no dia do rompimento, entoou e pulsou no coração do Centro Histórico de Mariana, nesta quarta-feira (5/11). Uma década depois, a voz dos atingidos e atingidas tenta dar vazão ao sentimento de resistência e de justiça, diante da angústia do silêncio das autoridades e em protesto pela lentidão dos processos de reparação.

O rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, completou dez anos. O desastre, considerado um dos maiores da mineração brasileira, resultou em 19 vidas perdidas e na devastação de comunidades, vegetações e da fauna de Minas Gerais e do Espírito Santo, pela grande onda de lama de rejeitos de minério da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton. Os sedimentos contaminaram a bacia do Rio Doce e o Oceano Atlântico.
As cicatrizes da tragédia ainda são visíveis nas vidas das pessoas afetadas pela atividade minerária. As cicatrizes também são marcas de uma luta incessante por direitos das famílias. Morador de Bento Rodrigues, Marcos Muniz, revelou que direitos não foram respeitados. “Até hoje, não tenho a minha casa entregue. Como que volta aos modos de vida? Tem casas que não foram entregues. A repactuação só beneficiou as empresas Samarco, Vale e BHP”, afirmou.

Sérgio Fábio do Carmo “Papagaio”, morador de Barra Longa e editor-chefe do Jornal A Sirene, ressaltou a dor e a tristeza que a destruição ainda causa na vida dos atingidos. “O toque da sirene toca todo dia 10, às dez horas da manhã, para lembrar que houve o rompimento da barragem, que houve um crime e que morreram pessoas. Seria importante que a sirene tocasse sim, mas antes do rompimento da barragem”, disse.
Durante as atividades de homenagens e manifestações aos familiares das vítimas e moradores, Duarte Júnior (Republicanos), prefeito de Mariana em 2015, desaprovou a condução dos processos de reparação pela tragédia.

“É um absurdo ter pessoas que não foram indenizadas, municípios que não foram indenizados. A condução do processo está errada. A gente precisa rever isso. Se não rever, a gente não vai assinar acordo. Se as empresas pagaram mal, têm que pagar de novo. Não vamos ceder, vamos continuar lutando e levantando a voz em favor dos atingidos”, declarou.
O atual prefeito de Mariana, Juliano Duarte (PSB), reforçou a busca por justiça e por uma reparação justa. “Uma década de luta por justiça para os territórios atingidos. Nós estamos falando de 49 cidades reconhecidas como atingidas. As prefeituras não foram ouvidas e tampouco os atingidos. Tragédia não, crime’, pontuou.

Juliano Duarte questionou o acordo de repactuação do Rio Doce. “A divisão dos R$170 bilhões do acordo é injusta. O Governo Federal ficou com R$50 bilhões, o Governo de Minas Gerais ficou com R$27 milhões. Para 49 cidades ofereceram apenas 4% do acordo. Para Mariana ofereceram menos de 1% do acordo. Nós não aceitamos e seguimos em busca de justiça”, completou.