Por Valdete Braga
Reza a lenda que um homem muito rico, ao ver a velhice chegando, decidiu abdicar de sua fortuna e ir para a floresta, viver isolado e em meditação. Lá, ele conseguiu desenvolver a mente para se libertar de pensamentos prejudiciais e tornou-se uma pessoa muito mais tranquila.
Sua tranquilidade e paz foram atraindo outros para a floresta, até chegarem a quinhentas pessoas. Tornaram-se monges, e por definição, naquela época, os monges eram pessoas sempre sérias.
Acontece que entre as pessoas que chegavam, veio um monge que estava sempre sorrindo, e por vezes chegava a gargalhar. Quando lhe perguntavam por que ele ficava rindo, ele respondia que se contasse não acreditariam. Dizia que somente o homem que iniciou aquela comunidade sabia por que, e isto lhe bastava.
Um ano, o inverno veio muito rigoroso, e o rei permitiu que os o monge e seus quinhentos seguidores fossem viver nos jardins de seu palácio, na cidade. O rei era um homem bom, mas que, devido aos inúmeros afazeres com o reino, não tinha tempo para si mesmo.
Terminado o inverno, os monges se preparavam para voltar para a floresta, quando o rei procurou o líder e lhe propôs continuar morando no palácio, pois já estava muito idoso para viver na floresta. O líder aceitou e chamou o monge sorridente, passando para ele a liderança da comunidade.
Voltaram todos para a floresta e lá permaneceram por um bom tempo, com o líder cada vez mais sorridente e feliz, até que um dia, sentindo muitas saudades, ele resolveu voltar à cidade, para visitar o ancião. Lá chegando, ficaram um tempo em silêncio, até que o visitante começou a dizer “ah, que felicidade! Que felicidade!
O rei, ao saber da visita, foi até os aposentos de seu convidado, para encontrá-lo, e lá chegando o monge continuava repetindo “que felicidade”, sem dar-lhe atenção. Isto irritou o rei, que se sentiu ofendido pela falta de interesse com sua presença, fazendo-o reclamar com o ancião.
O ancião, muito calmo, pediu ao rei um pouco de paciência, que ele iria lhe contar o motivo de tanta felicidade do visitante. E disse:
– Ele já foi um rei, tão rico e poderoso quanto você. Então decidiu tornar-se monge e descobriu que sua antiga felicidade não era nada comparado à sua alegria atual. Ele vivia cercado de homens armados que o protegiam, e hoje, sentado na floresta, ele não precisa de guardas armados, pois, livre que está da preocupação com sua riqueza e poder, sua sabedoria protege a si mesmo e aos outros.
O rei compreendeu imediatamente. Permaneceu mais um tempo conversando com os amigos, até que o monge retornou à floresta, mais feliz do que nunca.
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