Valdete Braga
Em apenas uma semana, presenciei duas mães “diagnosticando” seus filhos, ambos com três anos de idade. A primeira disse que o filho era hiperativo e a segunda que o dela sofria de déficit de atenção.
Seria cômico, se não fosse trágico, esta competição ridícula entre síndromes tão sérias, jogadas assim a esmo, banalizadas desta forma. Minha língua coçou para perguntar a elas qual médico havia passado o diagnóstico das crianças, mas como eu era só uma ouvinte e não participava efetivamente da conversa, achei melhor calar-me, e continuei ouvindo.
A mãe do filho “hiperativo” explicou, muito bem explicado, que ele é muito “atentado” (palavras dela), que não para um minuto e exige atenção o tempo todo, classificando estas atitudes em uma criança de três anos como hiperatividade, ao que a mãe do segundo logo encontrou também a sua justificativa. O dela “não largava de sua saia” e ela precisava acompanhá-lo o tempo todo.
Se fosse apenas uma, talvez não tivesse chamado a minha atenção, mas duas mães, em tão pouco tempo, com reações tão parecidas, é de fazer pensar. Para não ser injusta, procurei a definição para estas duas síndromes, e o que encontrei foi: “transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade”.
Esta definição está no google para qualquer pessoa acessar, mas é óbvio que diagnóstico só um profissional da área pode dar, e as características das duas crianças em questão, salvo exceções, são encontradas em todas as crianças de três anos de idade.
Qual criança nesta fase não é agitada, dinâmica e não exige atenção constante? Qual criança desta idade não “dá trabalho”, faz pirraça e precisa ser constantemente olhada? O problema é que, em muitos casos, e este pode ser um deles, é mais fácil rotular do que assumir a responsabilidade pela educação do próprio filho.
Algumas palavras entram na moda, e, por mais sérias que sejam, acabam se banalizando na boca de pessoas sem conhecimento. Por ignorância, interesse ou até maldade, em alguns casos, questões gravíssimas passam a ser tratadas levianamente e isto pode acarretar sérias consequências.
Qualquer pessoa responsável por uma criança tem por obrigação cuidar de sua formação física e emocional, e a qualquer sinal de que alguma coisa não está certa, é também sua obrigação procurar resolver o problema. Em caso de qualquer sinal de desvio, profissionais capacitados devem ser procurados, e o tratamento recomendado seguido à risca. Isto é o mínimo que qualquer um deve fazer, e em caso de saúde, física ou mental, é mais importante ainda.
Não importa qual “modismo” esteja em voga, pais e responsáveis precisam sempre ter isto em mente.
3 min