Por Valdete Braga
“Muito prazer, doutor Fulano”.
Quando ouvi a “apresentação” da pessoa, mal enxerguei a mão estendida, tamanho foi o clima gerado nos demais presentes, pela frase. O constrangimento de alguns (inclusive o meu) ficou óbvio.
Cumprimentei a pessoa, fiquei ali alguns segundos e logo fui de encontro a outros, que não são “doutores”, mas cuja companhia era bem mais agradável. Ainda mantendo distanciamento (seguro morreu de velho, bem diz o ditado) seguimos em um clima amigável e leve, até o final do evento.
É inacreditável como em pleno século XXI, ano 2022, ainda existam pessoas que coloquem títulos à frente do nome, em uma apresentação informal. Não sei e nem quero saber qual “doutorado” a pessoa possui, se é que possui algum, mas a arrogância, não apenas nas palavras como também no tom, demonstrou que, qualquer que seja ele, ficou restrito ao papel. Para a vida, os estudos com certeza não prepararam o dito “doutor”.
A humanidade passou por tanta coisa, a mais recente uma pandemia que deixou claro como somos todos iguais, e nem assim muitos de nós não aprenderam nada.
Não foi o título que incomodou, claro que não, felizes daqueles que têm a oportunidade de estudar, aprimorar-se em uma área, se for a área de sua escolha, mais felizes ainda. Quem dera todos tivessem a chance de cursar uma universidade, seguir carreira, realizar-se como profissional, mas infelizmente não é assim, vivemos em um país onde tantos não têm acesso sequer ao ensino básico.
É exatamente por vivermos esta triste realidade que aquele que tem a oportunidade de carregar um título deveria sentir-se honrado por ele e sentir-se grato, em lugar de se utilizar disto como ferramenta de superioridade, como ficou claro naquela simples apresentação.
Muitos dos ali presentes eram também doutores, até pela natureza do evento, em sua maioria professores universitários com teses de doutorado defendidas. Porém ninguém colocava o título à frente do nome na hora de apresentar-se informalmente a alguém, em um momento de descontração.
Um desses professores comentou que não conhecia a tal pessoa e que ela se apresentou assim a ele também, causando o mesmo desconforto aos presentes.
“Nem vale a pena se irritar” disse ele, e está correto. Irritar-se com esse tipo de situação não leva a nada, a pessoa nem se toca, e continua se achando o máximo. Se faz bem para ela, que assim seja, mas causa até uma certa pena, existem coisas tão mais importantes para nos fazer bem!
Este tipo de vaidade só faz bem a quem a sente, nós outros continuamos com os nossos valores, bem mais importantes. Sigamos a vida assim.