Por Valdete Braga
Reza a lenda que um príncipe não gostava do conselheiro de seu velho pai. O conselheiro era um sábio ancião que, de forma serena, sempre repetia a máxima de vida segundo a qual “tudo acontece para o melhor, nada acontece por acaso”.
O príncipe cresceu ouvindo o jargão do ancião. Jovem e imediatista, achava que o sábio não tinha razão e que as coisas eram absolutamente casuais. Dizia que aquele conselheiro não tinha sabedoria alguma.
Quando o velho rei morreu, o príncipe assumiu o seu lugar, e logo pensou em dispensar o conselheiro derrotista e conformista, que só sabia repetir sua velha máxima.
Em certa ocasião, o novo rei resolveu ir caçar com seus homens e levou com eles o sábio conselheiro. Ele pretendia, na primeira oportunidade em que o ancião repetisse o jargão, se livrar dele.
Quando chegaram ao meio da floresta, o tempo sofreu uma reviravolta, e aconteceu uma ventania violenta. O vento derrubou um galho, que bateu contra a testa do novo monarca, derrubando-o do elefante e resultando em um corte profundo na testa.
Caído no chão, meio atordoado e com todos em volta para acudi-lo, o rei se levanta e reclama: “Que absurdo, como pôde acontecer uma coisa dessas comigo? Me machuquei inutilmente”.
Logo, o sábio conselheiro chega perto dele e fala: “Não se preocupe. Tudo acontece para o melhor, nada é por acaso”.
Indignado com o sábio, o rei ordenou a seus homens que cavassem um buraco, amarrassem o ancião e o deixassem para os chacais comerem. “Agora quero ver se ele vai achar que é para o melhor”, disse, irritado.
Ao ir embora, o rei se perde de sua comitiva pela floresta e escuta de longe um barulho. Pensando serem seus homens, caminha até o local e encontra um grupo de bandidos, que o aprisionam. Eles estavam fazendo um culto a uma divindade e teriam que entregar um ser humano em sacrifício.
Os bandidos levam o rei para o altar e, no momento de sacrificá-lo, percebem o corte em sua teta. Reclamam que, para servir de sacrifício à divindade, o ser humano deve estar íntegro fisicamente, e, irritados, o mandam embora.
No mesmo momento, o novo rei lembra-se da sabedoria do velho sábio e admite que o conselheiro tinha razão.
Mais tarde, ao reencontrar seus homens, ele vai em busca do conselheiro, afirmando que cometera uma injustiça. Ao chegar no poço, retira o sábio de lá e lhe pede desculpas, dizendo que a ferida o salvou.
O velho disse: “É, aqueles bandidos que tentaram te matar passaram por aqui também. Só não conseguiram me achar porque eu estava dentro do buraco. Tudo acontece para o melhor, nada é por acaso”.