Uma amiga, carioca, disse que Ouro Preto é “uma cidade muito metida”. Fiquei brava com ela, porque eu amo demais a minha cidade. A maioria de nós, ouropretanos, por nascimento ou escolha, nutrimos este sentimento por nossa terra, tão singular. Sentimos orgulho de sua história, de sua Importância mundial e, claro, não admitimos que se fale mal dela.
Porém, à medida que a minha amiga foi expondo as suas razões, a sua visão externa e sem paixões, passei a reconsiderar a minha braveza. Colocando-me no lugar dela, entendi que muito do que ela falava tinha razão de ser, não que isto diminuísse o amor que sinto pela minha cidade, mas mesmo aquilo que a gente ama possui defeitos.
A minha amiga nasceu no Rio de Janeiro, mas mudou-se ainda criança para Juiz de Fora, onde viveu a vida inteira. Há cinco anos veio com o marido morar em Ouro Preto, por motivo de trabalho dos dois, e, como todos que aqui chegam, encantou-se com a cidade, a princípio.
Durante este tempo que moram aqui, ambos fizeram amizades, inclusive a minha, se envolveram em alguns projetos, enfim, adotaram a cidade como sendo deles, como deve ser, sempre que chegamos a algum lugar.
– Mas então por que você diz isto? – Eu perguntei, sem entender onde estava a “metideza” à qual ela se referia.
Conversamos um longo tempo, e compreendi o lado dela. Eu sou nascida e criada aqui. Meus avós vieram de distritos, meus pais ambos eram ouropretanos, somente morei fora depois de adulta e mesmo assim por apenas dois anos. Minhas raízes estão aqui, e as dificuldades apontadas por ela nunca foram uma realidade para mim, apesar de saber das suas existências.
Primeiramente, somos uma cidade extremamente ligada ao turismo, que sempre foi o seu principal foco, pelo menos até o momento, já que ninguém sabe o que vai acontecer depois desta pandemia.
Como pólo turístico, a cidade acaba se dividindo, o centro é o todo poderoso e as periferias ficam esquecidas. Turista não visita periferia. Visitantes querem encantar-se com os casarões coloniais, as igrejas suntuosas e os museus internacionalmente conhecidos. Ninguém se lembra daqueles que estão dentro dos casarões, cujos corações pulsam exatamente como os dos que vivem nos bairros periféricos. O ser humano fica esquecido, em detrimento ao patrimônio material. Ouvindo-a, concordei que realmente não é justo.
A cidade se torna “metida” no momento em que é mostrada e vista pelas mídias apenas pelo seu miolo, ruas lindíssimas do centro, onde morou o inconfidente tal, o artista tal, etc. O verdadeiro pulsar ouropretano é muito mais do que isto. Somos todos nós, que merecemos tratamento igualitário, seja no centro, nos bairros de periferia ou nos distritos.
Ainda amo esta terra com todo o meu coração, mas que em certos aspectos a minha amiga está certa, isto está. Ouro Preto somos todos nós.