Estava na casa de uma amiga, quando a filha, de dezenove anos, chegou, visivelmente emburrada. Moça educada, cumprimentou, pediu licença e entrou casa adentro, possivelmente para o quarto.
Estranhei a atitude, porque ela normalmente é uma moça muito alegre, nos encontramos sempre e ela está sempre sorrindo e de carinha boa. Quando acontece de eu estar na casa dela e ela chegar, como aconteceu, sempre me abraça, fica batendo papo, brinca com a mãe…
A minha amiga balançou a cabeça e disse para eu não reparar, que devia ser briga com o namorado. E disse uma frase que a princípio eu não entendi. “Esses dois estão parecendo namoradinhos de reallity show”.
Não entendi nada, a princípio. Já vi várias definições de namoro, mas “namoradinho de reality show” foi a primeira vez. A minha amiga, mais atualizada do que eu nestes assuntos, explicou, rindo, que está na moda “namoros fakes” nos realities da TV. Enquanto ela falava, eu fiquei pensando que as coisas estão mesmo muito estranhas.
Perguntei a ela:
– Mas será que alguém acredita?
Rindo, ela explicou:
– Acreditam e ainda torcem pelo “casal”.
Caímos na gargalhada, imaginando como é possível duas pessoas se conhecerem, se apaixonarem perdidamente (porque, segundo ela, são amores de novela) e ainda conquistarem seguidores em três meses.
– Três meses? Alguns já ficam morrendo de amor em uma semana – ela me disse, sempre rindo.
Falando sério, é impressionante como se banaliza tudo, por dinheiro ou ibope, inclusive o amor. Geralmente, os participantes destes programas são jovens, a maioria, se não todos, em busca de um lugar na mídia. Não deixa de ser legítimo, é claro. A vontade de entrar para o “show business”, de ser conhecido, se transformar em modelo, ator ou atriz, principalmente entre os jovens, não tem nada demais.
Não questiono o desejo de entrar para a televisão. Questiono os métodos. Quando minha amiga ironizou que o namoro da filha parecia “namoro de reality”, quis falar sobre a futilidade da relação, que, ao que tudo indica, não vai durar muito, outra coisa normal nesta idade.
Só que é normal aqui, no mundo real, Jovens namoram, terminam, encontram outro namorado ou namorada, e o “emburramento” passa, como tudo na vida. Mas levar este tipo de “relacionamento” para a televisão, para disputar um prêmio, é banalizar a situação. Sinceramente, esta parte eu não sabia. Mais uma vez, agradeci por não assistir.