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Se depender de mim

Um amigo perguntou-me se eu havia parado de escrever. Respondi que não, e que, se depender de mim, pretendo escrever até morrer. Ele pareceu bastante surpreso com a minha resposta e argumentou “mas é claro que só depende de você”. A conversa continuou com outros temas, e não me lembrei mais, até agora. Na verdade, nem sei porque recordar-me disto.
Não sei o motivo de ter respondido desta forma, as palavras simplesmente me vieram, e agora, pensando no assunto, entendo a surpresa do meu amigo, mas também entendo que foi a melhor resposta. Na verdade, não depende só de mim, por mais que assim pareça.
Teoricamente, ele está certo. Mas tanta coisa pode acontecer… eu posso sofrer um infarto no meio desta crônica, posso ser atropelada em uma ida à padaria, ou posso ter uma paralisia nas mãos. Nada disto depende de mim.
Mas estes exemplos estão muito mórbidos. Para amenizar as possibilidades, cito outro, como uma longa viagem, sem condições para usar o computador, e isto impedir a minha próxima crônica, conto ou livro. Outros exemplos mais poderiam ser dados, afinal não quero aqui aviltar nada de trágico, Deus me livre. O que quero dizer é que tudo pode acontecer.
Isto vale para tudo na vida. Nunca temos certeza de nada. Nunca nada vai depender só da gente. Seja em termos de trabalho, diversão ou o que for, estamos todos ligados. Nada é absoluto. Nenhuma decisão ou atitude pode ser considerada definitiva.
Eu amo escrever e, se depender de mim, não pretendo parar nunca, mas não posso dar esta certeza, como não podemos dar ao outro ou a nós mesmos a certeza de nada nesta vida. Quantas vezes a gente tem certeza de alguma coisa, e de repente, sem que sequer imaginemos, tudo muda e a nossa certeza se transforma em uma dúvida atroz. Ou em uma decepção. Ou simplesmente em uma mudança que nos seja imposta por “N” motivos.
Assim como este, muitos outros exemplos poderiam ser dados. Mudança de cidade por necessidade de trabalho, mudança de trabalho por necessidades econômicas, casamentos para sempre que chegam ao fim, solteiros convictos que se casam e dura para sempre, viagens planejadas que precisam ser adiadas, viagens jamais imaginadas que se realizam, etc, etc, etc.
Por mais que tenhamos certeza, a nossa certeza pode mudar, num piscar de olhos. Não somos donos de nada, nem da nossa vida. Claro que nos esforçamos ao máximo, mas se pararmos para pensar friamente, somos tão pequenos, que jamais devemos garantir o absolutismo de nada. Podemos, sim, nos esforçar. Devemos dar o melhor de nós, jogar para o Universo positivismo e esperança, mas sem a arrogância da certeza. Agora entendo o porque da minha resposta. Foi ele, o Universo, que respondeu por mim.

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