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Os especialistas e seus fanatismos

Ouvi um diálogo que, devido à seriedade do assunto, teria tudo para render um bom debate, mas, pela posição dos interlocutores, ambos muito fanáticos, tornou-se o clássico caso do “seria cômico, se não fosse trágico”.
Dois destes tantos “especialistas” que andam por aí, conversavam sobre a indicação da atriz Regina Duarte para a secretaria de cultura.
– Lugar de atriz é em novela – disse o primeiro.
– Mesmo? Lugar de cantor é no palco, e você comemorou quando Gilberto Gil foi escolhido ministro – respondeu o outro.
Nem é preciso dizer que se tratavam de dois “especialistas” de lados antagônicos, o primeiro defendendo um governo e o segundo defendendo outro.
O mini-diálogo de duas frases acabou por aí, logo eles passaram a falar de outros assuntos, com o exagero e fanatismo imperando em ambas as partes.
Não quero aqui tratar da questão política, e sim desta polarização que beira o fanatismo, onde um lado é perfeito e o outro é tudo de ruim. Para quem é do lado A, tudo que A faz está certo e tudo o que B faz é errado, e para quem é do lado B, o oposto. As pessoas, via de regra, não se preocupam com os fatos, em si, mas com quem os provoca. Muitas vezes, nem lêem a notícia, e de acordo de onde ela vem, já são a favor ou contra.
Em nenhum momento ouvi algum dos envolvidos questionarem, seja contra ou a favor, possíveis ações da cidadã Regina Duarte ou do cidadão Gilberto Gil. Não se preocuparam se nenhum dos dois tem o perfil indicado, se têm propostas, se seriam, em suas opiniões “especializadas”, boa ou má aquisição para o cargo. Limitaram-se a falar do lugar da atriz na novela e do cantor no palco. Total falta de argumento.
A questão foi simples: um “condenou” porque é atriz, e o outro, no mesmo tom, achou logo a outra “condenação”, por ser cantor. Ou seja: se os dois interlocutores estivessem do mesmo lado político, tudo estaria certo.
Aliás, este “tribunal”, que começou virtual e acabou chegando em nosso dia a dia, já está cansando, não apenas nas questões políticas, mas em tudo que gera polêmica. Podemos, sim, discordar, sobre qualquer assunto. Mas é preciso saber discordar. Alguns se colocam como acusador, júri e juiz. Aí dão a sentença, de tão “entendidos” que se acham.
Não vou aqui entrar na questão política específica, por não ser esta a intenção desta crônica Quero me ater ao fanatismo, que é sempre nocivo, em qualquer situação. Achei o diálogo muito raso, coisa de torcedores dos dois lados, e uma discussão política séria deve ser feita com eleitores e não torcedores fanáticos.

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