Ela entrou, atravessou com elegância o salão e assentou-se sozinha em uma mesa. Tinha os olhos fixos na pista de dança e um semblante triste.
O baile começou. Caio esperou, atento, se chegava o acompanhante daquela moça que o encantara, e vendo que após a orquestra tocar algumas músicas e vários pares já estarem dançando, ela continuava sozinha, criou coragem e aproximou-se. Cavalheiramente, como era usado naqueles tempos, curvou-se ante ela e perguntou:
– A senhorita me dá a honra desta dança?
O semblante triste transformou-se em um lindo sorriso, e ela aceitou o braço que ele lhe oferecia. Caminharam até a pista e começaram a dançar, sem palavras. O tempo voou e quando perceberam já estavam na terceira dança, e Caio perguntou se ela queria se sentar e se ele poderia fazer-lhe companhia. Ela assentiu, e foram para a mesa, que antes ela ocupara sozinha.
Ela contou chamar-se Helena e disse que era da cidade, morava na Rua do Paraná.
– Mas como eu nunca a vi na cidade? Estou sempre pelas ruas e jamais esqueceria um rosto como o seu.
– Sou filha única e meus pais são muito rígidos. Saio muito pouco de casa. Mas eu não me importo, sou muito tímida e prefiro ficar com os meus bordados e meus livros.
Assim seguiram conversando e não viram o tempo passar. De repente, ela olhou o grande relógio na parede do canto do salão e disse:
– Desculpe, preciso ir. Meu pai deve estar chegando para me buscar.
– Não quero ser inoportuno nem inconveniente, mas poderia acompanhá-la? Assim conversaríamos mais um pouco.
– Está bem, eu também estou gostando muito da conversa. Mas temos de ir logo, para chegarmos antes do meu pai sair de casa.
Sempre conversando, muito felizes, os dois encaminharam-se para a escada, desceram, e quando chegaram na Praça Tiradentes, caía uma chuvinha fina, daquelas comuns em Ouro Preto, nos anos 50.
Imediatamente, Caio tirou o paletó e o ofereceu a Helena, para que ela se agasalhasse do frio e da garoa. Seguiram pela Praça Tiradentes, desceram a Rua Direita e, no início da Rua do Paraná, ela parou na porta de uma casa.
– Chegamos. Muito obrigada pela companhia.
Disse isto e fez menção de tirar o paletó para devolvê-lo, no que foi impedida pelo rapaz. Erguendo uma das mãos, ele falou:
– Não, por favor. Fique com meu paletó. Virei buscá-lo amanhã. Assim terei um motivo para revê-la e conhecer os seus pais. Isto, se for do seu agrado.
(Continua na próxima edição)