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Vieira: gênio do púlpito e da tribuna

Por João de Carvalho
VIDA: Há fundadas opiniões que o dão como descendente de sangue mulato, havendo também quem afirme sua origem hebraica. O fato é que ele nasceu em Lisboa aos 06 de fevereiro de 1608, e faleceu na Bahia aos 18 de julho de 1697. “Teve ele a proteção de N. Sra. das Maravilhas, quando ouviu um estalo no seu cérebro, quando orava”. Ouvindo um sermão sobre o inferno, decidiu ele ser religioso. Tornou-se sacerdote, crescendo sempre mais sua reputação como orador.
Pregando certa vez na Capela Real conquistou com espanto de todos a amizade do Rei que o nomeou preceptor do príncipe Teodósio. Desempenhou com rara competência o cargo de embaixador em Paris, Holanda e Roma. Foi encaminhado, para nossa honra, para o Maranhão, no Brasil, como missionário, onde sempre defendeu a liberdade dos índios, chegando ao absurdo de ser algemado pelos Colonos.
Retornando à Europa sofreu perseguição da inquisição, mas foi bem recebido pela Ordem religiosa que abraçara sem temor e honra. Certa ocasião pregou diante de 19 cardeais. A famosa e poderosa rainha Cristina, da Suécia, fez dele seu Confessor, e, se tornou sua defensora, conseguindo seu indulto, e, se vê isento do Tribunal da Inquisição. O Papa Clemente IX concedeu-lhe um “Breve” que o absolveu de todas as penas e restrições do Tribunal inquisitório! Faleceu quase cego.
“A ORATÓRIA é arte soberana: o seu império é o mundo, o seu cetro a palavra, que não só domina o mundo, mas criou o mundo; porque para haver mundo houve palavras. A palavra, que traduziu a força da onipotência divina, revela e traduz a máxima força humana, instrui e constrói, vence e convence, alumia e extasia, move e comove, afama e infama, reforma e transforma; evangeliza a ciência, que é um prodígio, e difunde a Religião, que é um milagre.
O orador planeja como o arquiteto, cinzela como o estatuário, matiza como o pintor, canta como a música, fantasia como o poeta, pensa como o filósofo, argumenta como o dialético, batalha como o guerreiro, representa como o ator, adestra-se como o ginasta, impõe-se como o moralista e abnega-se como o apóstolo. Sobe à tribuna, à cátedra, ao púlpito; fala, galvaniza, arrebata; encarna no seu verbo toda a sua alma e funde nesta alma toda uma assembleia: chama-se Demóstenes. Ésquines, Hortênsia, Cícero, Crisóstomo, Bossuet, Vieira, Mirabeau, Castelar, José Estevão e Fontes, Ruy Barbosa” (Mário Gonçalves Viana).
Vieira é por si só, uma inteira arte oratória. A capacidade de convencer é uma das mais expressivas formas de expor suas razões em seus sermões. Foi um homem honesto, o que, implica numa fidelidade constante à verdade. Que isto sirva de exemplo para os políticos modernos.
ENFIM, confesso que considero o Padre Antônio Vieira e Ruy Barbosa de Oliveira os maiores oradores do Brasil, na religião e na política, os verdadeiros ases do púlpito e do palanque.
“Vieira não morreu. Foi como o sol, à tarde, iluminar outros mundos”, como escreveu Delson Gonçalves Ferreira, ao compará-lo ao pôr do sol de cada dia. Ele é o maior orador que já subiu nos púlpitos da língua portuguesa.
O mundo o perdeu há 326 anos, a partir de 18 de Julho de 1697. Dele guardamos 207 sermões de extraordinária comunicação que registram sua personalidade para sempre.

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