Imagem: Marcos Delamore / Por: Marcos Delamore
No último fim de semana, a cidade histórica de Ouro Preto promoveu a reabertura do Museu da Inconfidência e a inauguração da Sala Afro-brasileira, no Anexo do prédio histórico. O evento contou com a presença do prefeito Angelo Oswaldo (PV), do diretor do Museu, Alex Calheiros, da presidenta do Ibram, Fernanda de Castro, de Tadeu Bandeira, do secretário de Cultura, Flávio Malta, e demais autoridades municipais e convidados.
Na ocasião, foi anunciado, pela presidenta do Instituto Brasileiro de Museus e pelo diretor do museu, a possível mudança de nomenclatura da instituição, incorporando o título de nacional, por sua representatividade, inclusão de novas perspectivas, de novos acervos e de novos protagonistas.
Em entrevista exclusiva ao Jornal O Liberal, Fernanda de Castro comentou a novidade e enfatizou o caráter do museu de adequar o tradicional ao inovador. “Essa mudança de nomenclatura representa uma mudança de perspectiva do que o museu pode representar – no lugar que ele está, com a importância que ele tem, com o acervo que ele tem -, é totalmente possível combinar o tradicional com o inovador. Porque a gente não faz a transformação da sociedade baseada no nada, a gente faz baseado nas nossas lutas. O Museu da Inconfidência tem um enorme potencial mobilizador de transformação, de inclusão, de aproximar a sociedade civil na elaboração das políticas públicas. O Museu nos possibilita pensar na mudança do mundo”, declarou.
No coração da Praça Tiradentes, o imponente edifício do Museu da Inconfidência ganha uma nova instalação permanente, dedicada às contribuições culturais, artísticas e históricas das populações afrodescendentes em Minas Gerais. A mostra “Afro-brasilidades: arte e memória na encruzilhada” dispõe de, aproximadamente, cem obras, que refletem o cuidado e o compromisso da instituição com a diversidade e a democracia cultural.
O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, enalteceu as iniciativas que buscam consolidar Ouro Preto como um dos maiores centros culturais do Brasil. “A coleção reúne obras muito importantes e representativas da contribuição africana e indígena na arte brasileira. É uma realização marcante e inovadora, e que dá novas dimensões para o Museu da Inconfidência, em um momento em que a instituição busca resgatar e projetar novos sentidos e visões da história”, disse.
Angelo Oswaldo ainda destacou a importância dos procedimentos realizados no Museu para conservar a história, a memória e a identidade do município, do Estado e do país. “O Museu inaugura a Sala Afro-brasileira, um ambiente que mostra a projeção da Arte Barroca do século XVIII na cultura mineira, especialmente numa linha de produção afro-mineira e afro-brasileira. Ela não está condicionada apenas a Minas Gerais, mas, a partir do Ciclo do Ouro, que aconteceu nas mãos do povo. Isso vai ser apresentado no Museu da Inconfidência. É um momento muito importante”, detalhou.
O diretor de Promoção da Igualdade Racial, Kedison Guimarães, apontou para a ampliação dos sentidos do Museu para dar protagonismo aos artistas da arte barroca em Ouro Preto. “Hoje é um dia de muita alegria. A nossa ancestralidade está em festa. A reabertura do Museu da Inconfidência significa um fortalecimento das raízes afro-brasileiras. É um marco para Ouro Preto ver a reconstrução e re-existência da história do nosso município, sendo contada por esse grande marco que é o Museu da Inconfidência”, reforçou.
A comitiva e o público presente visitaram as instalações do edifício histórico e participou da inauguração da exposição que amplia as leituras sobre o passado e promove a visibilidade de memórias historicamente silenciadas. A coleção de Tadeu Bandeira foi anexada ao Museu para evidenciar a continuidade do Ciclo do Ouro e enaltecer a produção artística do município. Para ele, é uma alegria muito grande ter parte de seu acervo em um dos museus de importância histórica para o país. “Gostaria de agradecer, pois é uma honra muito grande ter parte da minha coleção compondo uma das salas do Museu da Inconfidência. Minha vida sempre se pautou pela arte popular e eu sempre me encantei pelos artistas populares”, expôs Tadeu.
O secretário municipal de Cultura, Flávio Malta, ressaltou a importância de Ouro Preto para a cultura e história do país. “Os aspectos culturais, sociais, a vida, o cotidiano brasileiro tem uma grande parte dessa formação em Ouro Preto. O que a gente puder formar para trazer novos diálogos, com a nossa história e nova visão de sociedade, é muito importante. A exposição traz a visão dos artistas que se inspiraram no barroco”, afirmou.
O Museu da Inconfidência foi construído originalmente entre 1785 e 1855 para funcionar a Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto. Em 1944, foi inaugurado o museu para preservar, pesquisar e divulgar objetos e documentos relacionados à Inconfidência Mineira. O diretor do Museu da Inconfidência, Alex Calheiros, informou sobre a candidatura e aceitação da UNESCO para o museu ser um dos vinte e dois lugares do mundo de memória sensível na rota dos escravizados. “Candidatamos o Museu da Inconfidência para o programa da UNESCO baseado em dois argumentos: no texto das Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, o edifício foi construído sobre os ossos e sangue do pobre, e o prédio ter sido construído para ser Casa de Câmara e Cadeia e presídio estadual. Então, a gente não está negando o que é esse edifício, mas diversificando essa história, mostrando outras perspectivas e outros participantes nessa construção”, concluiu.
Em janeiro de 2025, o espaço foi temporariamente fechado para obras emergenciais de restauro, execução de intervenções de prevenção contra incêndio e pânico, revisão das instalações elétricas, pintura das alvenarias e limpeza das cantarias das fachadas. Além disso, o espaço passou por um processo de revitalização, assegurando a preservação dos bens integrantes do patrimônio cultural do Estado.