Valdete Braga
Nesta semana em que comemoramos os 341 anos de Ouro Preto, vale lembrar algumas lendas que permeiam o imaginário, não apenas dos moradores da cidade, mas de todo o Brasil.
São muitas as lendas que envolvem a cidade, mas uma das mais conhecidas é a história de Chico Rei, um escravo que tornou-se rei, e que originou o tema “congado”.
Chico Rei nasceu no Reino do Congo, na África, chamava-se Galanga e foi capturado, juntamente com sua família, e trazidos para o Brasil, para serem escravizados.
Tinha esposa e um casal de filhos e, segundo a lenda, durante a viagem, o navio sofreu dificuldades devido ao excesso de peso, o que fez com que o comandante mandasse atirar ao mar as mulheres, que eram na época consideradas “mercadoria de menor valor”. Desta forma, Galanga perdeu esposa e filha, aportando no Brasil somente com o filho homem.
Aqui chegando, foi rebatizado com o nome de Francisco e vendido para um rico comerciante do Rio de Janeiro. Lá ficou por um tempo, servindo a este senhor, até que o mesmo decidiu vendê-lo. Desta forma, Francisco veio para Minas Gerais, trabalhar nas minas de ouro de Vila Rica.
Aqui ele começou um movimento, escondido dos senhores, com um grupo de escravos também revoltosos com o cativeiro. Durante anos, Francisco e este grupo esconderam ouro por baixo dos cabelos, até juntarem o suficiente para comprar suas alforrias.
Algum tempo depois, conseguiu localizar o filho e comprou também a liberdade dele. Foram muitos anos e muito ouro, o que permitiu a Galanga, ou Francisco, comprar também uma mina, que mais tarde foi rebatizada como “Mina de Chico Rei”, devido ao título com que os escravos passaram a tratá-lo.
Ainda segundo a lenda, foi Chico Rei quem construiu, junto com seus escravos libertos, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos escravos, onde era permitido aos negros, na época impedidos de frequentar outros templos religiosos, entrarem e fazerem suas orações. Escravos aproveitavam para realizarem ali o sincretismo religioso, proibido pela religião predominante na época.
Quando a igreja ficou pronta, houve grande festa entre os escravos, que celebraram com muita música, comida e alegria. A partir daí o séquito de Chico Rei cresceu, e todos os escravos, não apenas os alforriados, passaram a considerá-lo rei, o que o transformou no soberano de todos os escravizados.
Durante as festividades, houve a coroação de Francisco, com todas as homenagens que eram realizadas no Reinado de Congo transportadas para a Vila Rica da época.
Assim nasceu a tradição do congado, manifestação cultural que até hoje acontece em todo o Brasil.