Casa foi invadida pelo retorno do esgoto e colchões foram danificados. Imagem: Paulo Noronha
Por: Victória Oliveira
Moradores da Rua Tombadouro, localizada no distrito de Cachoeira do Campo, enfrentam, mais uma vez, sérios transtornos causados pela rede de esgoto. O problema, que já se tornou recorrente, voltou a atingir residências nessa última semana, após chuva na região, comprometendo a saúde e bem-estar da população local. A Saneouro, responsável pela prestação dos serviços de água e esgotamento sanitário de Ouro Preto, afirmou que as queixas já foram solucionadas e que realizou os atendimentos solicitados em tempo hábil.
De acordo com os relatos, o esgoto transbordou pelas ruas e pelos ralos do interior de uma residência na última sexta-feira (25), invadindo o quintal e os ambientes internos, provocando forte mau cheiro e danificando móveis e outras estruturas. “O que aconteceu é que na rua tá entupido e na nossa rede também está, e aí tá voltando tudo para casa. A casa está toda alagada, a gente perdendo os colchões, guarda-roupa, e não tem como nem abrir a torneira da pia, para lavar um copo”, afirmou a moradora Luciana Aparecida.
Além do desconforto, o contato com a água de esgoto representa riscos à saúde. A exposição pode causar doenças, como a leptospirose, por exemplo, ou infecções de pele, principalmente em crianças, idosos e pessoas com imunidade mais baixa. A contaminação pode ocorrer tanto pelo contato direto quanto pela inalação de gases e partículas presentes no local. “O problema é que aqui moram dois idosos, de 85 e 86 anos, e tem a minha cunhada, que fez cirurgia recentemente, e passando por essa situação com a água”, relatou Luciana.
Delza Rocha, que também vive no mesmo local, contou que uma das moradoras apresentou fortes dores de cabeça e todos eles viveram momentos de muito desgaste. Ao todo, oito pessoas foram afetadas diretamente. Além das reclamações com o atendimento da Saneouro ao longo dos últimos dias, Delza resolveu registrar também um boletim de ocorrência, onde alegou que ela e sua família estão sendo expostos “a uma situação insustentável, que compromete a saúde física e mental”, e também descreveu os danos materiais na residência.
Ela afirma que, agora, o esgoto parou de retornar, mas que a solução foi apenas temporária, já que os próprios profissionais que atenderam à solicitação concluíram que, com os equipamentos que tinham disponíveis no momento, são seria possível realizar um desentupimento efetivo e, assim, tomaram uma medida paliativa.
A Saneouro confirmou os registros das reclamações e protocolos abertos, mas afirmou em nota que todos os atendimentos aconteceram, e de forma eficientes: “De 1 de janeiro de 2025 a 28 de abril de 2025, a Saneouro recebeu 11 registros referentes a serviço de esgotamento sanitário para a Rua Tombadouro e todos eles foram solucionados pela empresa dentro do prazo contratual”.
Delza contou que os profissionais que realizaram o último atendimento, na quarta-feira (30), jogaram água na área externa e disponibilizaram desinfetante para a família. “Um desinfetante não vai acabar com os vermes. E na casa eles não entraram”. Ela também disse que a família possivelmente procurará o Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON).
“A situação já tem vários anos, é só chover que o esgoto sobe e invade nossas casas. dá prejuízo, fora o mau cheiro e o risco de contaminação, tá bem complicado. Dessa vez invadiu a casa da nossa vizinha, mas já sofremos aqui com garagem suja, perda de móveis”, revelou o morador Edgar Feres. Ele afirma que o contato imediato é realizado com a Saneouro e que também são feitas reclamações na prefeitura, mas nenhuma das partes resolve efetivamente o problema. Segundo ele, “fica esse jogo de empurra-empurra”.
As reclamações sobre o sistema de esgoto no bairro Tombadouro não são recentes e já existia na época em que o serviço era prestado pelo SEMAE (Serviço Municipal de Água e Esgoto). No entanto, naquela época, o serviço não era tarifado da mesma forma. Desde que a empresa Saneouro assumiu a concessão e passou a cobrar mensalmente pela oferta e tratamento de água e esgoto, o sentimento de indignação aumentou. Em outubro de 2022, a insatisfação da população foi expressa de forma contundente quando a Câmara Municipal de Ouro Preto foi lotada por moradores que levaram diversas queixas contra a empresa.
Mais recentemente, em março, o vereador e presidente da Câmara, Vantuir Silva, utilizou a tribuna para destacar novamente a situação da rua. Segundo ele, os vazamentos de esgoto na via são constantes, afetando não apenas os moradores, mas também todas as pessoas que transitam pela região para acessar outros bairros. “Quase toda semana tem esgoto vazando, isso vem desde a época do SEMAE. Já fizemos documentos cobrando providências, mas o que precisa ali é uma obra de infraestrutura definitiva para resolver o problema”, afirmou o parlamentar.