Imagem: Ane Souz
Por: Letícia Gabrielli e Marília Mesquita/ Revisão: Greiza Tavares
Ensaios para as representações bíblicas, toalhas nas janelas e confecção de tapetes devocionais. O ouro-pretano se preparou para viver a Semana Santa na cidade patrimônio da humanidade. Uma das festividades mais tradicionais do calendário cultural de Ouro Preto, os ritos da passagem de Morte, Paixão e Ressurreição de Cristo compõem a identidade dos munícipes.
Quando criança, Aline Monteiro, moradora do Centro, se vestia de anjo. Hoje, produz tapetes devocionais. “As minhas tias eram muito religiosas e participavam de tudo que era proposto pela igreja, fui influenciada por elas”, contou. Há seis anos, ela colabora com a confecção dos adornos nas adjacências da Rua Direita, durante o alvorecer do Domingo da Ressurreição. “Vejo como uma expressão de arte popular efêmera: a união, a solidariedade, o vinho que a gente compartilha na produção dos tapetes, os projetos que são pensados com antecedência e os que são criados na hora”, refletiu ao lembrar de todo o processo. Os tapetes devocionais são patrimônio imaterial de Ouro Preto e, também, são confeccionados no Corpus Christi, que, este ano, será celebrado em 19 de junho.
Cultura enraizada
Mais de 100 ouro-pretanos se vestem de figuras bíblicas. A tradição está enraizada na população cristã. “Muitas pessoas acham que é um outro carnaval. Mas é coisa séria, é uma parte religiosa e todos que participam estão conscientes de quem representam”, explicou Irene Sacramento, coordenadora das encenações na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no Antônio Dias.
As figuras bíblicas encenam passagens da bíblia, durante as celebrações, e acompanham as imagens sacras nas procissões. Há 33 anos, Irene também confecciona as vestes utilizadas pelos fiéis. “As roupas de cada figura levam um símbolo que representa a passagem da história da salvação”, reforçou.
Outro costume ouro-pretano é estender toalhas nas janelas. Roxas, vermelhas ou brancas, cada cor tem um significado. Desde criança, Deolinda dos Santos faz ornamentação da fachada da casa dela. “A forma comunitária em não deixar essas exposições morrerem, leva os moradores a quererem passar o costume para os filhos e netos”, afirmou. As janelas ficam enfeitadas entre a Quarta-feira de Cinzas e a Páscoa, também no Corpus Christi e em outros dias santos.