Imagem: Divulgação
Por: Marcos Delamore
O livro em cordel intitulado por “A Benzedeira”, do diretor e roteirista Bruno H. Castro, foi lançado no dia 13 de março, na cidade de São Paulo. A obra une elementos inspirados na literatura de Guimarães Rosa a experiências pessoais do autor. O lançamento compõe a etapa inicial do projeto que busca financiamento coletivo para produção de um longa-metragem em animação 2D.
O ponto de partida para a escrita do livro foi a participação de Bruno, como aluno ouvinte no curso de “Cultura oral e Literatura Afrobrasileira”, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em que, ao invés de entregar um projeto de conclusão, o cineasta e escritor entregou o argumento do filme “A Benzedeira”.
A cidade de Ouro Preto entra em cena quando Aurora, a “peregrina milagrosa”, nascida em Ouro Preto, foi anunciada por um Xamã à escravizada Rosa. Desde o seu nascimento, ela viveu experiências místicas. Em sua infância, recebeu o chamado de uma Entidade e, na adolescência, foi coroada rainha em um cortejo africano (vulgo “congada”) no dia da Lei Áurea. Em sua fase adulta, percorreu a caatinga e o cerrado numa peregrinação de milagres e, ao envelhecer, voltou à sua cidade natal, Ouro Preto, na qual criou um terreiro religioso. Perseguida pelo senhor de terras Dévilin, ela teve o seu humilde templo incendiado. Naquele momento, fez sua primeira aparição espiritual e virou santa pela boca do povo. A alma de Aurora, segundo Dona Jovelina, ainda vaga pelas terras áridas e protege a quem pede por proteção.
A obra
“A Benzedeira” é um relato pessoal, que retrata o encontro entre um poeta e uma benzedeira. Buscando inspiração para escrever o seu primeiro livro, o poeta Bruno viaja pelo interior de São Paulo e se depara com Dona Jovelina, uma senhora respeitada por seus conhecimentos espirituais e rituais de cura. Em meio a um diálogo, os dois descobrem um passado em comum ligado a Aurora, a “peregrina milagrosa”, da Cidade Imperial de Ouro Preto. O ponto principal do enredo é a discussão sobre a fé e a intolerância religiosa no Brasil, principalmente em relação às crenças de matriz africana.
A narrativa, em cordel de realismo fantástico, é inspirada na escrita de Guimarães Rosa e na primeira infância de Bruno em Barbosa, interior de São Paulo, onde conviveu boa parte de sua vida com a benzedeira Dona Jovelina. Segundo o autor, “descobri um mundo tão fascinante entre métricas, poesias e filosofias em “Grande Sertão: Veredas” que me perdi na linguagem do autor. Nunca entendi se foi benção ou maldição ler Guimarães Rosa, mas existe um antes e depois na minha história e minha escrita, e isso me fez ver beleza no meu passado”, revelou.
O autor
Bruno H. Castro é roteirista e produtor cinematográfico brasileiro. Autor de projetos premiados, como as animações “Sangro” e “Guida”, foi vencedor de prêmios no Anima Mundi Animation Festival e no Annecy International Animated Film Festival de 2015.
Além disso, tem uma iniciativa voltada para a comunidade LGBTQIAPN+, como a coleção de literatura infantil sobre gênero e sexualidade “Amar” e a série de cordeis “Lampioa”.
O trabalho pode ser adquirido pelas redes sociais, no Instagram @abenzedeirafilme