Imagem: Arquivo pessoal/Daiana Rocha
Por: Marcos Delamore
Um estudo do Departamento de Química, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), investiga possíveis caminhos para substituir a aplicação de mercúrio na atividade de mineração artesanal de ouro e de outras substâncias minerais. A pesquisa, selecionada para a 4ª Mostra Inova Minas Fapemig, indica o uso da planta Pereskia aculeata Miller, comumente conhecida por Ora-pro-nóbis, no processo de extração de ouro para a melhoria da qualidade de vida dos garimpeiros.
A mineração artesanal
A mineração artesanal e em pequena escala (MAPE) é uma prática econômica realizada por mineradores individuais ou por um grupo reduzido de garimpeiros. A garimpagem é descrita como uma atividade de mineração feita manualmente com a aplicação de poucos materiais e instrumentos, e em áreas de até 50 hectares.
O garimpo, de forma legal e sustentável, é um potencial gerador de renda e promove impactos sociais e econômicos para as famílias e comunidades de regiões brasileiras. No município de Ouro Preto, a atividade está presente no distrito de Antônio Pereira, local onde esses saberes e fazeres são reproduzidos ao longo dos anos.
Ao passo que a prática proporciona importantes resultados sociais, a extração artesanal de ouro implica em riscos para a saúde humana e em contaminação dos solos, das águas e do meio ambiente, a partir do contato com substâncias como o mercúrio.
A pesquisa
A pesquisa “Emprego de subprodutos da folha de ora-pro-nóbis (Pereskia Aculeata Miller) como metodologia alternativa ao uso de mercúrio na extração artesanal de ouro”, do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQUIM), da UFOP, analisa e verifica recursos para a extração de ouro artesanal, de modo limpo e ecologicamente sustentável.
O estudo, de autoria da mestranda Daiana Rocha e orientado pela professora e vice-reitora da instituição, Roberta Fróes, busca empregar folhas de ora-pro-nóbis como possibilidade para a separação de ouro e de outros minerais, e evitar a contaminação pelo contato com o mercúrio.
Os relatos de famílias da comunidade de Antônio Pereira, quanto ao uso de Ora-pro-nóbis em substituição ao mercúrio, fizeram com que
Em entrevista à Rádio Itatiaia, a autora destaca a proposta da pesquisa. “A pesquisa mostra que Ouro Preto e Mariana surgiram com a descoberta do ouro, que trouxe desenvolvimento, mas também impactos sociais e ambientais. O ouro beneficiou poucas famílias e foi majoritariamente levado para fora do país. Pessoas escravizadas, especialmente da Costa da Mina, contribuíram com técnicas avançadas de beneficiamento. O uso de mercúrio no garimpo causa contaminação grave e irreversível em pessoas e no ambiente. O estudo propõe alternativas para mitigar esses efeitos e valoriza o conhecimento ancestral envolvido no processo,” declarou.
Roberta ressalta que o estudo visa ser uma alternativa segura e sustentável para os trabalhadores e a natureza, além de preservar as tradições culturais do local. “Embora se reconheça toda a polêmica relacionada ao garimpo artesanal de ouro, transformar culturalmente pessoas e comunidades que vivem, ou melhor dizendo, sobrevivem do garimpo é um desafio considerável”, disse.
Ora-pro-nóbis
A Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata Miller) é uma planta nativa da América do Sul. Rica em nutrientes, vitaminas e minerais, a planta é utilizada por famílias que atuam em mineração artesanal, no distrito de Antônio Pereira. A “baba” das folhas é considerada um método poderoso e eficaz para a extração de ouro.
O resgate e a valorização de mecanismos dos saberes tradicionais e ancestrais auxilia na inovação da ciência brasileira, sem perder os traços de sua origem. A partir desse conhecimento, as pesquisadoras realizaram simulações em espaços de mineração artesanal ativa e em ambientes controlados para atestar a técnica e verificar sua efetividade em um possível processo substituição ao método padrão.
A pesquisa foi uma das selecionadas para apresentação na 4ª Mostra Inova Minas Fapemig, que ocorreu entre os dias 4 e 6 de abril, na capital mineira, Belo Horizonte.