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Ponto de Vista do Batista
4 min

Viagem insólita

Por Nylton Gomes Batista

Pois é, gente! Muitas vezes, vive-se uma rotina, mais ou menos, as mesmas coisas a se repetir todos os dias, com tranquilidade, sem sobressaltos, e, a natureza humana só faz acumular reclamações contra esse estado de coisas; porém, lá um dia, se algo diferente se interpõe entre a mesmice, a pessoa entende que o universo conspira conta si.

Cada um de nós vive em dois mundos distintos; o coletivo, no qual tudo ou quase tudo pode ou deve ser compartilhado, e, o pessoal, no qual, cada um define o que pode ou não deve ser compartilhado, embora, em tempo das redes sociais, muita gente tenha perdido a noção desses limites. Este introdutório é para dizer que, hoje, vou sair um pouco da linha e narrar algo pessoal, que poderia guardar comigo, porém desejo compartilhar com mais pessoas; algo insólito, tão estranho, do qual nunca tenha ouvido falar ou lido aonde quer que fosse, exceção feita ao reino da ficção. Se aconteceu comigo é porque o acontecido, um fenômeno insólito, está ligado à natureza humana e, assim sendo, julgo não ter o direito de sonegar o compartilhamento; mais pessoas devem tomar conhecimento, porque fato semelhante pode ter acontecido a outros que, por medo do prejulgamento, tenham guardado em segredo. Vamos aos fatos.

 Estava eu, certa manhã destas últimas, em Ouro Preto e, tendo concluído o que fora fazer, dirigi-me à estação rodoviária. Eram dez horas e quando acabava de descer as escadas de acesso à plataforma de embarque, estava a manobrar, para partida, o ônibus com destino a Rodrigo Silva, com escala em Cachoeira; expressão de uso no transporte aéreo, mas aqui usada porque torna o relato mais chique! O veículo estava lotado de cadeiras vazias, além de três ou quatro passageiros, entre os quais um amigo também caminhante da madrugada, que me saudou, efusivamente, tão logo me viu. Preferi sentar-me ao seu lado para um bate-papo durante o percurso. Entabulamos conversa e, quando olhei para fora, já havíamos saído da cidade, após embarque de mais alguns passageiros no último ponto. Ao ver a paisagem exterior, estremeci-me sob tremendo susto. Veio-me então, a primeira e célebre pergunta de quem se sente perdido no espaço/tempo: – hein??? “Ondé cotô?” – pensei, não reconhecendo, em nada, a paisagem – pensei, mas não verbalizei, consciente dos riscos da pergunta. Depois dos oitenta há que saber o que manifestar, em que momento e, principalmente, a quem manifestar. Manicômios foram postos fora de moda, mas nunca se sabe, né?

Sem deixar transparecer a surpresa e preocupação, observei que tudo estava normal dentro do veículo, onde o silêncio era quebrado pelos únicos tagarelas, meu parceiro de banco e eu! Se tudo estava normal, então o problema estava comigo. E agora?  “Pra oncovô?”  Não sabia onde estava e nem para onde ia! A estrada não era a Rodovia dos Inconfidentes, mas, sim, uma estrada secundária, estreita e sem acostamento. Será que embarquei em ônibus errado? – pensei – mas, o painel na “testa” do veículo indicava Cachoeira do Campo e meu parceiro de viagem para lá ia também. Será que estávamos indo para Rodrigo Silva? Não, porque não era estrada, não para qualquer das localidades da região. A estrada, em declive bastante acentuado, serpenteava entre montanhas altíssimas, buscando por um plano, ao qual nunca chegava. Praticamente, não havia tráfego naquela estrada; não mais que quatro carros, um deles vermelho, e, nenhum ônibus ou caminhão.

Além de algumas moedinhas num porta-níqueis, não portava dinheiro, o que me preocupava quanto ao retorno para casa. Como não sou portador do vírus da coqueluche mundial, não carrego celular; ele fica junto ao teclado do PC, para outros fins. Isso me obrigaria a mendigar uma ligação, para obter socorro e voltar para casa. Estava assim a pensar quando, olhando um pouco para trás, através da janela, deparei-me com um barranco alto, avermelhado; e tudo se clareou! Estávamos no Fecho do Funil! Estava terminado o meio pesadelo sob estado de vigília, fenômeno desconhecido por mim, até então, mas que ter sido vivenciado por outras pessoas.

Resta saber o significado ou propósito do fenômeno, pois nada acontece por acaso!

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