Nylton Gomes Batista
Na semana passada faltou explicar como desapareceu a placa original da ponte central, dado que se considera importante, porque a placa que ficou pode dar a impressão de que a ponte é, relativamente recente quando, verdade tem mais de cem anos (1916). Por ocasião da inauguração do açargamento, a placa original foi afixada num dos lados e a segunda no outro. Algum depois, um acidente de trânsito qubrou o quarda-corpo, justamente no local onde estava a placa. Reparações foram feitas, porém a placa não voltou ao seu lugar. Mais algum tempo e alguém a encontrou abandonada, num canto. Tão logo encontrada,foi providenciada sua recolocação. Esperava-se que, daquela vez, ela continasse ali afixada, esquecendo-se que “coincidências” acontecem! Mais algum tempo, outro “acidente” da mesma natureza aconteceu no mesmo local. Reparos foram feitos, mas a placa desapareceu e não mais foi vista, pelo menos até o momento. Tomou “doriu” e sumiu!
Vamos, agora, à primeira rua aberta no lado esquerdo do Rio Maracujá. Quando o governo da capitania iniciou a construção do palácio, houve que procidenciar água, não soemente para as obras, mas que servisse, perenemente, aos futuros e ilustres residentes. Para sua captação, construiu-se um açude, no local ainda hoje conhecido por aquele nome, e, a partir dele, abriu-se um rego que levaria a água até o palácio. Presume-se que, espontaneamente, tenham surgido as primeiras casinhas, possivelmente pela iniciativa de responsáveis pelamanutenção do açude e daquele curso d’água, artificial, para que o abastecimento do palácio não fosse prejudicado. A água não era tão somente para o uso doméstico, uma vez que alimentaria também um lago, mandado construir para fins recreativos da família governamental, que incluía pequeno barco a vela. Foi, mais ou menos, por essa razão e dessa forma o surgimento da Rua do Rego, que deu início ao povoamento no lado esquerdo do Maracujá, enquanto se dava suporte ao Palácio da Cachoeira.
Cabe, no momento, acrescentar que a construção do Palácio da Cachoeira e mais obras como a grande ponte e a fortaleza militar, mais ou menos, dois quilômetros acima, seguindo em direção à nascente do Maracujá, não teria sentido, se o palácio não fosse para residência do governador da capitania, porém para “veraneio”, conforme apregoa a história de Ouro Preto. Que raios de palácio para “veraneio” precisaria de uma sentinela sob a forma de fortaleza militar, a primeira do gênero em toda Minas Gerais? Só não vê quem não quer, que a história contada é pura conversa mole pra boi dormir, na qual também já acreditei. A coroa portuguesa reservou para si, em Cachoeira do Campo, duas glebas: uma para a edificação do palácio e outra, maior, para o “Quartel dos Dragões”. Engraçado é que, em Vila Rica, não se fez nada disso! Outra grande evidência de que, em Cachoeira, residia o governador é a igreja-matriz (não capela, como dizem os mal-informados), monumento religioso de notável valor artístico. Que grande influência induziria edificação de tal magnitude, se não autoridade portuguesa no topo da administração da capitania? Por si só, Cachoeira não tinha potencial para execução de projeto de tal envergadura! Não produzia ouro! Seccionada em duas pela estrada de ligação com Conselheiro Lafaiete, a Rua dp Rego recebeu dois nomes diferentes, para apagar da memória coletiva a história local; mas ainda é tempo de recuperar a História!
Ressalte-se, ao final desta série, que seu objetivo foi expor a importância e o significado da preservação de nomes originais de logradouros, não cabendo censura alguma à memória de qualquer das pessoas homenageadas, na troca de nomes; todas têm seus merecimentos. O verdadeiro objetivo é a valorização da comunidade cachoeirense, mediante a preservação de suas memórias mais caras, entre as quais os nomes dos muitos cenários, onde a história local vem sendo’serra escrita e motivando expressões como: “Cachoeira é única e não há outra, porque Deus perdeu a receita, ao terminar de criá-la”, repptida inúmeras vezes pelo saudoso professor salesiano, Fábio Nogueira, das antigas Escolas Dom Bosco. Cachoeira é única e privilegiada entre duas “mães”, na natureza; acomodada aos pés da “serra” da Mãe Engrácia, sob vigilância da “serra” da Mãe d’Água, de trás do antigo Quartel dos Dragões, sucedido pelas Escolas Dom Bosco e, hoje, Vila Galé!