Ediraldo Ramos foi eleito com 1.049 votos pelo PSB. Imagem: Amanda de Paula Almeida
Por: Amanda de Paula Almeida
Ediraldo Ramos (PSB), mais conhecido como Pinico, tem 48 anos e é natural de Cachoeira do Brumado, onde morou até os 12 anos de idade, quando se mudou para Mariana. A família tem alguns laços na política, seu pai é primo do ex-prefeito, João Ramos Filho. Seu tio, José Jarbas Ramos (Nêgo) foi vereador por cinco mandatos e seu filho, José Jarbas Ramos Filhos, que foi vereador por dois mandatos. A trajetória até alcançar uma cadeira no legislativo foi longa, tendo disputado três eleições antes de se tornar vereador em 2020.
“Eu sempre tive vontade, além dessa questão estrutural de família, que veio o vínculo, então já corre na veia mesmo essa vontade de política. Eu vinha tentando ser vereador desde 2008. Eu sempre fui bem votado, sempre passei perto. Em 2008 eu passei perto, tive 376 votos e o vereador que foi eleito no meu partido teve 412. Em 2012, eu fui mais ou menos e em 2016 eu cheguei perto, tive 619 votos. Em 2020, eu fui eleito pela primeira vez, 757 votos pelo Partido AVANTE e agora eu fui reeleito com 1049 votos pelo Partido PSB”, afirma.
Atualmente, Ediraldo Ramos é o Presidente da Câmara Municipal de Mariana. Para ele, o desenvolvimento da sua vida política está na conquista da confiança da população no seu trabalho com o passar do tempo. “A primeira vez é mais difícil, a gente não tem aquele nome ligado diretamente a política. Tinha parentesco, mas não é igual, por exemplo, quando você tem um pai que é político, aí a pessoa já sai na frente, tem aquele vínculo, a gente tem um vínculo mais um pouco assim de lado, digamos assim. O pessoal foi me conhecendo ao longo do tempo, a gente vem fazendo um trabalho junto às pessoas, às comunidades. As pessoas viam que a gente tinha vontade e e começou a acreditar mais, porque você conseguir a confiança das pessoas não é fácil”.
Ediraldo acredita que há uma descrença na política devido a inúmeras quebras de confiança que acontecem no meio. Em sua trajetória, ele se compromete em concluir todas suas promessas. “Se todos [os políticos] fizessem isso, ao longo do tempo, ia demorar, mas o pessoal ia ter outra percepção da política e do político. Então, passado o tempo, com mais pessoas acreditando em mim, isso fez com que eu fosse crescendo com aquele mesmo povo. E cheguei hoje aí, o grupo queria o meu nome como presidente da Câmara, o prefeito também apoiou e isso facilitou com que eu fosse eleito, juntamente com o voto aí dos meus amigos vereadores. Hoje nós estamos aqui fazendo um trabalho e que seja bom para toda nossa cidade, que seja aprovado, principalmente, pela população”.
Estabilidade política
Após alguns anos de instabilidade política no município, com trocas constantes de prefeitos interinos, Mariana parece estar em um período estável e democrático. Ediraldo Ramos falou sobre a dificuldade em exercer um trabalho efetivo em tempos de fragilidades políticas: “O prefeito faz uma projeção de um trabalho, uns projetos e começa a dar sequência e aí ele sai aí entra outro, que já pensa em outro tipo de gestão, porque cada um tem sua cabeça, cada um faz a gestão que achar melhor para ele e para a cidade. Então eu vejo que com essa estabilidade aí de no mínimo 4 anos com Juliano [Duarte], Mariana só tem a ganhar. Porque ele já tem uma projeção, ele tem uma meta de trabalho. Eu tenho certeza de que ele vai cumprir e a cidade vai ganhar com isso”.
Em épocas de instabilidade, além de pouca resolução efetiva dos problemas da cidade, os esforços parecem se concentrar em problemas de maior impacto financeiro e social. Agora, com um futuro mais estável, algumas pautas importantes, porém menores, podem ser retomadas: “A gente fala em resolver esses problemas estruturais grandes, mas nós temos muitos pequenos. O tapa-buracos, por exemplo, que é simples, mas que é importante. A coleta de lixo, é importante que esteja sendo feita adequadamente. E a estrutura, por exemplo, de escolas, de creches, de UBS [Unidade Básicas de Saúde]. Equipar as UBS dos distritos, principalmente, porque às vezes tem um cidadão lá que passa mal, não consegue chegar até a sede, porque a ambulância não está equipada de acordo com o que deveria estar. São pequenas coisas que se tornam grandes no final. Então, não podemos esquecer desses pequenos detalhes, uma limpeza de rua, uma capina, tudo é importante. Tem que fazer as grandes sem deixar as pequenas, que são os serviços básicos e essenciais”.
Pessoas em situação de rua e a relação com as mineradoras
A questão do aumento populacional e do crescimento do número de pessoas em situação de rua em Mariana tem sido alvo de debate político há alguns anos. Durante uma conferência realizada em maio de 2024 para tratar do tema, foi apresentado um aumento de 195% nos atendimentos a migrantes no Centro POP, unidade de referência para pessoas em situação de rua, no período entre 2020 e 2023. Durante a 1ª Reunião Ordinária deste ano, os vereadores discutiram as condições dos patrimônios e prédios públicos, relacionando-as ao problema das pessoas em situação de rua. Para o presidente da câmara, o debate deve ser conduzido em conjunto com as mineradoras.
“Eu vejo que o rompimento da barragem [de Fundão, em 2015] teve relação com isso. As empresas trouxeram muitas pessoas de outras cidades e estados para trabalhar aqui. Aí, lá na frente, eles mandam embora e não dão o suporte para a pessoa voltar. Já houve casos aí de pessoas que moram na rua e não tinham para onde ir. Ou seja, antes moravam no alojamento e depois a pessoa sai e não têm o suporte para voltar, muitas vezes moram muito longe, em outros estados. Então, a gente tá discutindo inclusive isso: essas empresas que estão trazendo pessoas que querem voltar, têm que dar o suporte para as pessoas. A gente tá cobrando muito isso, da Renova, da própria Vale, da Samarco, elas têm que ajudar nessa questão. Nós temos uma alta demanda de creches, na questão da saúde e isso tudo envolve essas empresas”.
Repactuação da barragem de Fundão
Os processos envolvendo a repactuação da barragem de Fundão já se arrastam por quase 10 anos. No Brasil, o acordo de repactuação foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal em novembro de 2024 e prevê o pagamento total de R$132 bilhões. Desse montante, R$100 bilhões serão destinados aos entes públicos – incluindo a União, estados de Minas Gerais e Espírito Santo e os municípios que aderirem ao acordo. Mariana, no entanto, ainda não aderiu ao acordo brasileiro, optando por aguardar o desfecho do processo em Londres, que deve ter a sentença divulgada em meados de 2025. Sobre a aplicação do valor, Ediraldo Ramos acredita que o principal investimento deve estar ligado à saúde e à moradia.
“Precisamos atender a população com mais remédios, muitas pessoas não têm condição de comprar o remédio e procura o vereador para estar ajudando. Não é a função do vereador, mas se a gente sabe que elas realmente não têm condições e não pode ficar sem remédio, a gente ajuda, mas isso é o serviço do município de atender essas pessoas carentes. E na questão de moradias, as invasões só vão acabar a partir do momento que a prefeitura e o governo trazerem esses programas [de habitação, como “Minha Casa, Minha Vida”] para a população. Porque se tiver o programa, as pessoas não vão invadir. Elas invadem porque não tem condição de comprar um lote em Mariana. Ninguém invade uma terra porque quer, ninguém ‘puxa um gato’ de energia elétrica porque quer. É porque não tem condição. E se não tem condição, ela vai fazer a coisa errada. Então, para que isso não ocorra, tem que investir, pegar parte desse dinheiro, investir em moradia, em loteamento municipal. Talvez uma pessoa que tenha uma condição um pouco melhor, possa comprar um lote com um preço acessível e estar construindo a sua casa, com uma moradia digna. Não sou favorável também a dar a casa para pessoa, ela tem que pagar, mas com um valor e uma condição que dê para ela pagar”.
Pedidos da população
Em todos os anos, enquanto candidato e vereador eleito, Ediraldo acredita que os pedidos da população se concentram na questão da água, moradia e saúde: “A população cobra muito é a questão da água. A água e moradia andam juntas, são dois problemas seríssimos na nossa cidade em conjunto com a questão da saúde. O resto, o pessoal cobra, mas vem assim a médio e longo prazo. Aí é o esporte que traz saúde, e educação também é muito importante, visto que traz muitos benefícios, tira as pessoas da rua, assim como o esporte”.
Composição da Câmara e pouca renovação
As eleições para a Casa Legislativa de Mariana foram marcadas por pouca renovação e baixa representatividade. Apenas seis dos vereadores que compõem o quadro atual da Câmara não foram reeleitos. Além disso, embora 52,2% do eleitorado seja do gênero feminino, Mariana passará os próximos quatro anos sem nenhuma representante mulher no Legislativo. Sobre o tema, Ediraldo Ramos avalia que, se por um lado é justo que continuem ocupando as cadeiras aqueles que trabalham pelo município, por outro, o sistema muitas vezes acaba excluindo pessoas que mereceriam permanecer ou até mesmo conquistar uma vaga.
“A gente vê pessoas que trabalharam e saíram porque, às vezes, é como o sistema funciona. Tem a questão do grupo político, a questão do partido, às vezes a pessoa perde em partido, mas ganharia no outro. Isso aconteceu comigo, por exemplo, em 2016, eu perdi a eleição, mas em três outros partidos eu teria sido eleito. Ocorre também de a pessoa ser beneficiada num partido que ela não ganharia em nenhum outro”.
Atualmente, somente o vereador Marcelo Macedo (PSDB) está em oposição ao executivo. Para Ediraldo, todos os vereadores, oposição e aliados, estão comprometidos com a população e conduzirão todas as demandas da forma que acreditarem ser melhor para Mariana, sem deixar que questões partidárias perpassem o bem maior. “Eu vejo a oposição até saudável, a oposição tem a opinião dela, quando acha que é viável, ela tá votando, quando ela acha que é inviável, ela não vota [a favor]. Eu acho que tem que ser feito assim: independentemente de ser apoio ou oposição, se a pessoa vir que o projeto não é viável para a cidade, ela não tem que ser favorável porque ela é aliada. E tem que ser respeitado, porque são poderes independentes”.
Brasil Digital
Na última terça-feira (4), Ediraldo Ramos esteve presente no Ministério das Comunicações, em Brasília, em conversa com secretário do Ministro das Comunicações, Wilson Wellisch, para defender a inclusão prioritária da Primaz de Minas nas próximas etapas do programa Brasil Digital, programa que tem como objetivo implantar estações transmissoras de TV para levar os canais da Rede Legislativa (emissoras da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das assembleias legislativas e das câmaras municipais) e da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), além de seus parceiros da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), para municípios ainda não cobertos por essas emissoras. A iniciativa conta com orçamento previsto no Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para a compra e instalação dos equipamentos de transmissão nas cidades selecionadas.
“Essa TV Câmara vai inicialmente para 38 cidades, que são tratadas como prioridades, ao todo ela vai atingir 400 cidades. Só que nesse primeiro momento, apenas essas 38. Ao que parece o prazo é até junho para ser instalado, então são cidades tratadas como prioridades para essa instalação. E quando eu fiquei sabendo sobre isso, eu marquei uma agenda lá em Brasília para que Mariana fosse tratada como prioridade. E realmente, Mariana não estava na lista de prioridades. Nós tínhamos ali, por exemplo, Ouro Preto, João Monlevade e Mariana não estava. Então essa viagem foi importante porque Mariana entrou para a lista de prioridades e será contemplada, se não tiver nada ao contrário, até junho essa TV Câmara vai estar instalada em Mariana”, explicou o presidente da Câmara.
Ediraldo também destacou a importância deste benefício em Mariana para levar a informação para os cidadãos: “Essa TV Câmara alcança toda a região, não só Mariana, mas também os distritos e outras cidades. E essa TV será conjunta com TV Senado, com TV Assembleia e TV Legislativa. Então, ela tem um várias informações que vai chegar até o cidadão, ele vê o que que tá acontecendo, não só na Câmara, mas no dia a dia, tanto do Estado, quanto do país todo. É importante porque ela pode ter também outras outras grades educativas. Então, não é só a política em geral é uma TV educativa”.
Projeto futuros
Ediraldo Ramos também falou sobre medidas importantes relacionadas às atividades da Câmara que já estão em progresso. Atualmente, são realizados 80 atendimentos para fazer a Carteira de Registro de Identidade, 40 no turno da manhã e 40 à tarde. O presidente anunciou que além desse serviço, haverá mutirões todo mês com 100 vagas e já estão também em organização para dobrar o atendimento diário para 160 atendimentos. O agendamento do primeiro mutirão acontece no dia 24 de março, e o atendimento, no dia 29 do mesmo mês. Serão disponibilizadas 100 vagas para a população.
“Eu estou equipando o CAC (Centro de Atendimento ao Cidadão) com mais dois acessos para a gente dobrar o número de atendimentos no dia a dia. Isso vai demandar um pouco de tempo, porque eu tenho que comprar os acessos e nós temos que qualificar as pessoas para elas terem autorização da Polícia Civil para poder fazer o documento. Porque não é só colocar a pessoa lá e treinar, ela tem que ser credenciada pela polícia”, explicou.
Ediraldo pretende também abrir um local de atendimento jurídico para mulheres vítimas de violência doméstica. A intenção é que seja uma localidade neutra e reservada e que possa atender as vítimas com amparo judicial.
“Vai ser um atendimento mesmo com advogados e estagiários Nós vamos atender a mulher que é vítima de violência doméstica, já estamos estudando e conversando com os parceiros e vamos conseguir isso em breve”.
Legado
Em relação ao legado que espera deixar ao final do biênio (2025-2026) na presidência e também ao final dos quatro anos enquanto vereador, Ediraldo Ramos acredita que todo projeto que impacta a vida do cidadão é uma marca positiva sobre o mandato e seus feitos positivos para a população.
Na eleição passada eu solicitei que Mariana fornecesse óculos e próteses dentárias. Por que que eu pedi? Porque toda hora tinha uma pessoa no meu gabinete me pedindo ajuda para óculos. Aí eu vi que a demanda é alta e as pessoas não tinham condições de comprar. No início fiz algumas parcerias com uma Ótica, eu tinha um desconto bom, eu ajudava a pessoa, ela dava uma parte. Era como se tivesse feito uma divisão por três: o desconto da ótica, minha parte e a parte da pessoa. (…) Eu entrei com o pedido, foi acatado pelo prefeito da época, que era o Juliano [Duarte], que tava inteiramente, e hoje a Mariana fornece esses óculos. Parou uma época e agora já refiz o pedido para voltar e tenho certeza de que vai voltar. Mariana realmente tem uma demanda muito alta de óculos, próteses e aparelhos auditivos”, finalizou.
