IMAGEM: Arquivo pessoal
Por: Lucas Porfírio
A escritora e bacharel em museologia Marizabel Pacheco lançou seu segundo livro, “Sinhá Olímpia de Ouro Preto”, publicado pela Editora Mazza, de Belo Horizonte. A obra resgata a história e a memória de Dona Olímpia, figura icônica da cidade histórica, que ficou conhecida por suas histórias, excentricidade e presença marcante no imaginário popular. O livro, ilustrado pelo artista plástico Walter Lara e apresentado pelo professor Célio Macêdo, está disponível na Livraria Outras Palavras, no bairro Rosário, e também pode ser adquirido pelo site da editora.
O interesse de Marizabel por Sinhá Olímpia surgiu nos anos 2000, ao assistir à peça “Olympia”, do Grupo de Teatro Andante, com a atriz Angela Mourão no papel principal. “Quando comecei a estudar Teatro na UFOP, assisti algumas vezes à peça. Fiquei tão tocada pela história dela, de amor mal curado, me remeteu às histórias de antigamente que a minha mãe também contava – ao mesmo tempo, Sinhá foi frágil e forte, colorida, que não fazia questão de combinar nada com nada. Foi muito corajosa por romper com tantos laços… (in) sensatez? Não sei, ‘cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é’, como disse Caetano Veloso”, conta a escritora.
O livro dialoga especialmente com as crianças, reforçando a importância da memória coletiva e de um olhar decolonial sobre o patrimônio cultural da cidade. “Com a aceleração do tempo, tudo ficou líquido, esquecemos pessoas, fatos, esquecemos a ética, generosidade, a tolerância, etc. É preciso pausar para não esquecer, este também é o papel do contar histórias. Em especial, este livro traz o elo com o passado de Ouro Preto, Dona Olímpia marca presença nas placas de lojas, cachaçaria, rua – é uma figura real que também levou o nome da cidade mundo afora – por isso é preciso levar às crianças a história de Sinhá”, afirma Marizabel.
A autora destaca que sua narrativa mistura fidelidade histórica e imaginação, respeitando a dinâmica da memória popular: “Como a própria memória falha e confundimos datas, fatos, a narrativa ora pode ser fiel, ora imaginativa. A decolonialidade consiste em não eleger como protagonista os bens de ‘pedra e cal’, mas pessoas, este patrimônio humano que não pode ficar parado no tempo”.
Sinhá Olímpia, que nasceu no distrito de Santa Rita Durão, em Mariana, mas viveu seus últimos anos em Ouro Preto, conquistou reconhecimento nacional e internacional. Foi homenageada por poetas como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Rita Lee, além de ter sido tema da Escola de Samba Primeira de Mangueira, com o enredo “Deu a louca no Barroco”.
Com “Sinhá Olímpia de Ouro Preto”, Marizabel Pacheco reforça o papel das narrativas na preservação da história e identidade cultural. “Ouro Preto é sempre lembrada pelos seus patrimônios de pedra e cal, mas precisamos desvencilhar o olhar e falar também de seu patrimônio humano, como Sinhá Olímpia”, finaliza a autora fazendo um convite à leitura.