Depois dos bairros a merecer atenção, no que toca à História e tradição, focalizemos alguns pontos interessantes antes de considerar as ruas.
Ao sair no sentido de Belo Horizonte, temos a Ponte da Vargem, cujo nome se deve ao fato de ligar o perímetro urbano à região da Vargem, caracterizada, desde os primórdios, por ser ocupada por produtores de hortaliças. Como tal, fica a meio caminho de Tijuco, hoje Amarantina, tradicionalmente, também produtora de hortaliças. No sentido oposto, saindo para Ouro Preto, a região, entre o Oratório Dom Bosco e a “Ponte do Vai-e-Vem”, era conhecida como Jardim. Presume-se que o nome “Jardins”, dado a um conjunto residencial, nas imediações, e ao centro comercial se deve ao original. Contudo, não se sabe que ali, outrora, haja produzido flores. Sabe-se, sim, que até início dos anos 50 do século passado, entre o Oratório e ponto fronteiriço à estação rodoviária, havia um grande goiabal silvestre. No período da safra, podia-se encher cestas e mais cestas de goiabas e araçás de todos os tipos. O restante do terreno, até atual Rua ¨6, era conhecida como “campo da gabiroba”. Também “campo da gabiroba” era a região, hoje ocupada pelo “Residencial Dom Bosco, até a última curva da rodovia, antes de ganhar a reta. Esses dois espaços, nas tardes de verão, eram bastante frequentados por grupos de apreciadores de gabiroba, pelo menos, até o fim dos anos 50.
À montante da “Ponte do Vai-e-Vem” fica o ponto que lhe dá o nome. “Vai-e-Vem”, hoje obscuro e desconhecido, foi referência, também até final dos anos 50, especialmente para a garotada masculina, que ali se divertia, longe da vigilância dos pais. As águas, então razoavelmente limpas, do Maracujá desciam por um escorregador, na pedra lisa, e iam formar um poço de razoáveis proporções, o que ensejava o escorregar, à maneira dos modernos tobogãs, desde o alto da pedra até mergulhar no remanso. Muitos, os mais corajosos, até aprendiam a nadar naquele “balneário”! Nunca ouvi dizer sobre a origem do curioso nome, mas sei que acima do “tobogã” havia vestígios de antiga intervenção naquele curso d’água; talvez uma tentativa de represamento. Sabendo-se que os salesianos, antes de construída a pequena represa, ainda existente, no primitivo acesso ao colégio, haviam feito uma ou duas tentativas, frustradas, para fins de geração de eletricidade, é possível que os vestígios encontrados no “Vai-e-Vem” estejam ligados àquela ou aquelas tentativas.
De volta ao Jardim, não há como dele sair sem considerações ao episódio histórico, do qual foi cenário, iniciado com bravura, acabado em sangue e lavado com lágrimas, quando Cachoeira ainda engatinhava, na primeira década do século 18. Longe do burburinho garimpeiro, nas cercanias do Itacolomi, onde vicejavam sentimentos menos nobres, em decorrência da busca e disputa pelo ouro, cachoeirenses da terra não buscavam o que não haviam guardado, porém sementes lançavam, esperando delas o retorno em frutos. De súbito, a região do Jardim se viu tomada por homens nervosos, raivosos e armados; de um lado os paulistas, bandeirantes desbravadores da região e exploradores do ouro; do outro, o grupo dos emboabas, liderado por Manuel Nunes Viana, aventureiro e detentor do monopólio do comércio da carne em toda a capitania. Não satisfeito com o já possuído, pretendia ele também dominar a exploração aurífera e governar o território, assim conquistado. Até então, a coroa portuguesa não estava bem a par da descoberta e corrida ao ouro.
Relatos dizem que houve luta cruenta, desigual e em desfavor dos paulistas, antes que o Frei Francisco de Menezes, lugar tenente do Nunes Viana, corresse à singela ermida de Nossa Senhora de Nazaré, para arrombar sua porta e, ali sagrar governador o chefe Nunes Viana, não sem antes enxotar o titular da paróquia, Pe. Amador Rodrigues. Em pau-a-pique e coberta de sapé, a igreja, mais tarde convertida no monumento que é, já nascera como matriz, na condição de sede da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré; primeira paróquia (de missão ou curato) da Arquidiocese de Mariana, fora da sede episcopal. Portanto, nunca foi capela, conforme sugere um mal-informado jornal online de Ouro Preto!