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Ponto de Vista do Batista
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Toponímia antiga de Cachoeira III

Assim como o do Tombadouro, o bairro das Dores se confunde com rua do mesmo nome, Rua Nossa Senhora das Dores, e, tal qual o bairro Cruz do Monge padece “crise de identidade”, se é que coisas e locais padecem desse fenômeno psicológico, tipicamente humano.

É que aquela região cachoeirense nasceu como “das Dores” e, de repente, não se sabe por que cargas d’água “das Dores” virou Santa Luzia, sendo-lhe imposta a mesma denominação atribuída ao novo conjunto urbano, surgido ao lado da rua original (das Dores), a partir do cemitério que, diga-se de passagem, é o mais antigo.  A Rua Nossa Senhora das Dores é segmento da primeira rua, surgida espontaneamente à chegada dos primeiros habitantes locais. Era uma só rua que, mais tarde, foi dividida, recendo então três nomes distintos: Rua do Tombadouro, Rua7 de Setembro e Rua Nossa Senhora das Dores. É parte, portanto, da rua mais antiga de Cachoeira do Campo. Alguns podem pensar ser a Rua Nossa Senhora Auxiliadora continuação da rua primeira rua, mas, não; a Rua Nossa Senhora Auxiliadora é derivação dela. Mais à frente, em outro texto explicar-se-á como se chega a essa conclusão. Sendo então a Rua “das Dores”, denominação entre as mais antigas, que se estendeu ao casario surgido à sua volta, ficou muito estranha a troca. Entretanto, equívocos podem e devem ser corrigidos!

Polêmicas à parte, foquemos a atenção na Conjuração Mineira (Inconfidência é sob o ponto de vista português), movimento político, que visava nos separar do jugo português, motivado pela alta carga tributária (o quinto do ouro) cobrado pela coroa.  Oficialmente são citados os nomes de alguns conjurados, liderados por Tiradentes e, ingenuamente, se aceita aquele grupo como os únicos participantes. Sabe-se que qualquer movimento dessa natureza tem que estar bem entranhado na população contando, dentro desta, com participantes discretos, anônimos e prontos para a realização de tarefas mais simples, porém necessárias às tomadas de decisão pela liderança. A História oral cachoeirense conta que, do interior de uma das torres da igreja das Dores, o palácio do governador da capitania era vigiado por conjurados; dali conseguia-se ver o que acontecia na área externa do palácio, sendo anotados cenas e movimentos suspeitos, bem como visitas ao governador. É bem possível que a visita do Joaquim Silvério dos Reis (o único inconfidente) tenha sido detectada pela vigilância destacada na torre. Essa atividade na torre não quer dizer que alguém, dentre os conjurados conhecidos, ali permanecesse na condição de vigilante. Na verdade, eram participantes locais, que se revezavam para observar o que fazia o “inimigo”; eram conjurados anônimos cachoeirenses a dar sua contribuição ao movimento, hoje, orgulho dos brasileiros!

Cabe aqui outra observação histórica. Se o chamado “Palácio da Cachoeira” era apenas para “veraneio”, como diz a história oficial, por que a necessidade de o manter sob vigilância secreta? Se era destinado a férias, certo seria o governador ocupá-lo por pouco tempo durante o ano. Ora, a Conjuração Mineira não se desenrolou em alguns dias ou poucos meses, mesmo porque comunicação e transporte, fatores de natureza relevante em qualquer ponto na linha do tempo, eram difíceis e demandavam longo prazo. Por essas e outras, aquela região antiga e histórica merece recuperar seu nome original, e, que nomes novos sejam dados a logradouros, igualmente, novos.

A lorota ou conversa pra boi dormir, segundo a qual o Palácio da Cachoeira se destinava às férias do governador, este autor também já engoliu, adormecido que estava, até ser despertado pelas fortes e gritantes evidências. Não há mais como, nem porque aceitar que se apaguem, anulem, diminuam ou mascarem valores, que são nossos, trabalhados, vividos, sofridos ou conquistados por nossos antepassados. A tendência de menosprezar Cachoeira do Campo é antiga e persiste em nosso tempo, sendo exemplo mais recente matéria do Jornal Geraes (ex-Galilé), “on line”, sobre o presépio montado na Praça Felipe dos Santos. O jornal se refere à igreja de Nossa Senhora de Nazaré, que domina a praça, como “capela”, quando é do conhecimento até das pedras da rua, que dita “capela” é igreja-matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré. E já era em 1708, por ocasião da Guerra dos Emboabas, quando Vila Rica ainda nem existia!

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