Esta semana assisti a um vídeo da atriz Renata Sorrah, onde ela fala das dificuldades enfrentadas pelas pessoas idosas. Muito verdadeiro o vídeo, e em certo momento ela diz uma frase bem impactante.
Inicia sua fala com uma breve biografia, diz o quanto já foi conhecida e fala a seguinte frase: “há pouco tempo descobri que eu cometi um terrível crime: eu envelheci”.
A partir daí fala brevemente sobre os desafios e dificuldades do envelhecimento, mas fala de uma forma serena, sem vitimismo ou arrependimentos. Não romantiza a velhice, mas também não se lamenta por ela, pelo contrário, fala de forma coerente e tranquila sobre o inevitável da vida.
Ela entende que seu tempo de estrelato passou, mas isto não a magoa nem impede de continuar seguindo a vida, grata pelo que passou e pelo presente, longe das telas, mas ainda viva, agradecida por cada ruga, que, segundo suas palavras, são motivo de orgulho por carregarem suas paixões, tristezas, alegrias, amores e lágrimas. Ela diz, textualmente: “são a história da minha vida, e eu tenho muito orgulho dela”.
O texto é muito verdadeiro e o mundo seria bem melhor se todos tivessem essa percepção da vida. Renata Sorrah é uma atriz conhecida, mas anônimos também envelhecem e passam por isso. Ela tem 77 anos de idade, mas em nosso país, na atual conjuntura, depois dos 50 já se discrimina.
Não é prerrogativa só nossa. Digo “em nosso país”, porque é o que vemos de perto, mas essa triste realidade acontece pelo mundo afora. Quantos são discriminados, marginalizados por este terrível crime, que todos vão cometer em algum momento? Só não envelhece quem morre jovem, e por mais conhecida que seja esta frase, poucos se lembram dela.
Acontece em todas as áreas, e dificilmente alguém não passará por isto. Os que têm condições financeiras passam pela situação com menos dificuldade, adquirindo recursos para uma boa qualidade de vida, recursos esses obtidos no decorrer de uma vida “produtiva”, materialmente falando. Muitos não conseguem, o que torna suas situações ainda mais difíceis.
O que fica muito claro no vídeo da atriz é que precisamos mudar a mentalidade. Envelhecer não é um crime e não deve ser tratado como tal. Ela, em seu depoimento, fala por si, mas representa o pensamento de uma sociedade equivocada, que discrimina o indivíduo pelo que não depende dele.
Renata Sorrah, atriz conhecida, bem resolvida material e emocionalmente, segura, realizada, passa por isso. Diz esta frase impactante e impressiona em seu vídeo. E os anônimos? Se ela, com a sua merecida boa qualidade de vida, se sente assim, e aqueles que são humilhados no trabalho (quando conseguem ter um), que recebem virada de rosto quando entram em um ônibus e são apontados como inúteis?
Passou da hora de mudarmos esta mentalidade.