O Liberal
Últimas Noticias
Carta aos Tempos
3 min

Gorceix, a Escola de Minas e a mineralogia brasileira

Mauro Werkema

Há 150 anos chegava ao Brasil, em 1874, a convite do imperador Dom Pedro II, o mineralogista francês Claude-Henri Gorceix e que, dois anos depois, em 1876, fundaria a Escola de Minas de Ouro Preto que teria contribuição pioneira e essencial na formação histórica, econômica e científica de Minas Gerais em aproveitamento ao imenso potencial mineral do Estado, que deve seu nome e sua origem à esta herança natural. Com sólida formação científica em Mineralogia, Metalurgia e Geologia, Matemática e Física e participação de várias pesquisas de campo na Europa, formará gerações de engenheiros com mentalidade desenvolvimentista e que dariam contribuição fundamental ao desenvolvimento de Minas Gerais nos vários ramos da engenharia, na pesquisa mineral, na siderurgia, geologia, mineração e na moderna industrialização do Estado.

Nascido em Saint-Denis-des-Murs, no sul da França, professor da Escola de Minas de Paris, permaneceu em Ouro Preto por 17 anos, até 1891, dois anos após a Proclamação da República que tirou do poder Dom Pedro II, seu amigo e apoiador e que o trouxera para Minas Gerais com a missão de pesquisar o potencial mineralógico mineiro e formar engenheiros com formação rigorosa nos diversos ramos da mineralogia. Com a Escola de Farmácia, de 1839, a Escola de Minas foi o embrião da Universidade de Ouro Preto, de 1960, e hoje sua atuação compreende modernos ramos da engenharia, incluindo a Civil, Ferroviária, Ambiental e de Produção, além de consultorias e experimentações com a criação da Fundação Gorceix.

Gorceix deixou 51 publicações, entre pesquisas mineralógicas, estudos técnico-científicos, estudos sobre vocações e potencialidades regionais de Minas Gerais, entre palestras e conferências. Estudou e avaliou ocorrências minerais, jazidas do minério de ferro, diamantes, estudou fósseis e dialogou com Peter Lund, naturalista dinamarquês em Lagoa Santa, formou coleção de minerais e fósseis até hoje expostos na Escola de Ouro Preto, uma das maiores do mundo, fez relatórios a Dom Pedro II que o visitou por duas vezes em Ouro Preto, iniciou um Observatório Astronômico com telescópio e com apoio de Pedro II, para estudos meteorológicos e climáticos, adquiriu vários aparelhos para o ensino e pesquisas modernas das engenharias.

Do exemplo e postura de Gorceix resulta o lema da Escola de Minas, “Cum mente et malleo”, que expressa sua concepção de ensino, atuação e trabalho. Para ele, o mineralogista deve aliar à boa formação científica a pesquisa e a experimentação, aliadas ao trabalho de campo, simbolizado pelo martelo. Os engenheiros da Escola de Minas destacaram-se, no desenvolvimento industrial mineiro, com a fundação e gestão de iniciativas minerais, na siderurgia e na metalurgia, como a Usiminas, Acesita, Gerdau, Belgo Mineira e dezenas de empreendimentos metalúrgicos e minerações. Mas, especialmente, no ensino e formação de recursos humanos.

Gorceix retornou à sua terra natal mas, em 12 de outubro de 1970, no 94º aniversário da Escola, seus restos mortais, exumados do cemitério de Saint-Denis-des-Murs, foram trazidos para Ouro Preto e depositados no Mausoléu Gorceix, no antigo Palácio dos Governadores, sede da Escola, na Praça Tiradentes, onde também está seu busto.

maurowerkema@gmail.com

Todos os Direitos Reservados © 2024

Desenvolvido por Orni