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Ponto de Vista do Batista
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Sim, há novos velhos

Nylton Gomes Batista

A cena se desenrola diante de um caixa eletrônico bancário, não no Brasil, mas, sim, na Europa; dedução feita a partir da moeda citada, o euro; e, quem narra é uma mulher.

“Um homem, provavelmente na faixa dos 80 anos está na fila de um caixa eletrônico. Eu fico atrás dele e, quando chega sua vez, ele tira do bolso um envelope, presumivelmente com dinheiro. Observo-o a uma distância segura e percebo que é incapaz de realizar a operação. Ele toca a tela várias vezes, o que me leva à dedução de que não consegue o que pretende. Em dado momento, ele se vira para trás, a fila já aumentada, olha para mim, logo atrás de si, e mediante um gesto seu, entendo que pede ajuda. Coloco-me, imediatamente, à sua disposição e o ajudo com instruções, sem quebra de sigilo, naturalmente. No seu ritmo, ele consegue realizar a operação, que consiste em pagamentos. Já afastados do equipamento bancário, ele se desdobrou em agradecimentos e quis compensar-me com uma cédula de dez euros. Agradeço-lhe dizendo que apenas tinha cumprido minha obrigação, sendo solidária com um semelhante, em momento de necessidade”.

Em seguida, a samaritana comenta sobre a cena, compadecendo-se da situação do velhinho de cabelos brancos (velhinho e não “senhorzinho” ou “senhorinha”, eufemismos bestas, pois ser velho é apenas ter tempo acumulado e não “estar de beiço caído”, “estar decadente”, “estar gagá”, “estar com um pé na cova”), assim como muitas outras pessoas na mesma situação, meio perdidas diante daquilo que para outro tanto representa facilidade, ganho de tempo, comodidade. A boa senhora, assim considerada com base no seu estilo de se comunicar textualmente, lamenta pela situação, um tanto vexatória, expressando sua opinião, de forma educada, sobre o comportamento da sociedade, de forma geral, que parece favorecer a tecnologia em detrimento do sentimento de humanidade.

Concorda-se com ela, até certo ponto, pois a exercer atividades mais simples, muitos não tiveram oportunidade de se manter em contato com os avanços tecnológicos, ficando à margem do processo de inserção digital; daí a dificuldade, que agora encontram. Há que ter paciência para com essas pessoas, além de guias postados junto a cada ponto de tecnologia, para orientá-las condignamente; desprezá-las por não terem a habilidade requerida é cruel, desumano e falta de caridade cristã! Como dito acima, concorda-se com a testemunha do caso, até certo ponto, pois há outro lado da moeda, formado por aqueles também “desconectados”, porém injusta sua inclusão entre os primeiros; estão à margem do progresso tecnológico, porque assim quiseram. Infelizmente, há uma cultura generalizada de que com a chegada da aposentadoria chega também a ociosidade. Para essas pessoas a aposentadoria põe fim à vida produtiva e, assim sendo, não há por que se ocupar das novidades entrantes, acompanhá-las, conhecê-las, aprendê-las e aplicá-las em proveito próprio. Ao contrário do proposto por esse comportamento, a aposentadoria não é o fim da vida e o mundo continua a girar, também quando o aposentado para!

Diante das leis trabalhistas, quem cumpriu a jornada tem o direito de ir para casa; diante do mercado, pode ser que a determinada altura da vida, um ou outro trabalhador não mais atenda às exigências da rotina numa fábrica; diante de parte da sociedade, pode ser que o cidadão seja considerado velho e inepto; mas, e diante de si própria, o que a pessoa é? Como se considera? Eis a questão! Ainda que não de forma direta, porém a partir do comportamento da sociedade, desde a infância o indivíduo enxerga a velhice como o período amargo da vida, cuja ocupação principal é a espera da morte. Esquece-se de que tem vida própria com vontade própria, independente do que possa pensar o resto mundo; portanto, capaz de muito realizar, mesmo fora da área em que atuou como trabalhador regular. Não é porque se aposentou, em sua atividade profissional, que uma pessoa se abandona à letargia, deixa de aprender e de ensinar, de fazer coisas, realizar sonhos, divertir-se e, é claro, manter-se em sintonia com a tecnologia que, na nova era, se envelhece cada vez mais rápido. Os novos velhos se sintonizam com as novas tecnologias!

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