O Liberal
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Carta aos Tempos
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Amigo Haroldo My Friend

Vai faltar o último drink… faltou o último brinde. Mas irão ficar muitas lições. Muito aprendizado. Você e esse seu coração gigantesco, esse seu olhar perspicaz para descobrir e valorizar talentos. Você zelando pela memória dos nossos artistas. Você presente. Com sua personalidade, marcante, forte, sarcaz e sensível. 
My Friend…

Marcado para sempre estará na história da cidade e do Morro. O Morro que vc escolheu para viver. Como paulista, soube traçar a rota dos bandeirantes. E estava ali, como um zelador das nossas riquezas naturais. Transitava diariamente: Morro São Sebastião, São João, Santana e Queimada. Guardião cultural do Morro. O reduto de Haroldo.

Hoje fecho os olhos e com lágrimas te vejo… Pela manhã, sentado, de pernas cruzadas com um café ao lado e a Folha de São Paulo. Leitura atenta, comentários dia a fora.

Sigo de olhos fechados e ainda vejo você e o seu drink, seu carinho ao brindar e dizer do fundo do coração “friendizinho”. Daí Reclamava dos ciúmes de Danilo da Brahma, menino bom, nosso amigo. Aceitava um tira-gosto na boca do “Passarinho”. Você gargalhava…

Ainda de olhos fechados vejo você, Galeria do GLTA, sala Ivan Marquetti, de lá você sobe, Galeria do IFMG, Ney Cokda. Ah os nomes… Você zelava por nossa memória.

Ensinando. Vivendo a Escola Técnica, discutindo a logomarca do Cefet Ouro Preto, sendo libertário no IFMG.

Pela rua apontando e arquitetando obras gigantescas de Jorge dos Anjos. Uma pausa no Bar do Glacio, depois o almoço no Manjuba, em seguida um drink no Satelite, no Barroco, no Baú, no Tião da Brahma, no Geraldinho, na Nida. A cada parada, um poema, alguns imortalizados em seus quadros. “Ninguém está à toa em nenhum lugar, Ninguém está em Nenhum Lugar a Toa”.

Ah Haroldo, abro os olhos e você não está fisicamente mais entre nós. Você que plantou a arte, por um ato maldoso colheu a violência. Você que semeou o amor, que a todos chamava de amigo foi morto por um inimigo, ou talvez um falso amigo.

Sentiremos sua falta mestre amigo. Sentiremos a ausência dos seus conselhos. Mas nos sentimos honrados por sermos seu amigo. Por sermos FRIENDS verdadeiros.

Ainda vejo a alegria no seu olhar quando pude lhe entregar em nome do povo de Ouro Preto o título de cidadão honorário. Que felicidade. E você pode ir a São Paulo mostrar esse reconhecimento a sua mãezinha. Haroldo, nascido em Assis, e por isso de alma tão Franciscana, no seu modo de viver, de se vestir, de morar, de estar…

Mas bem sei que o seu coração andava apertado. A preocupação com os dias futuros, com a nossa liberdade. Você partiu, nunca gostou de “mitos” tampouco de “coisos”. Ficaremos amigo e lutaremos. RESISTIREMOS como você nos ensinou. Com carinho e primando pela educação para vermos o nosso país democrático e respeitando as liberdades sejam elas quais forem.

O seu assassinato dói em nosso peito.
A sua candura e seus sonhos seguem conosco.
Vamos na “Rota Cosmogônica”,
Evoé Haroldo, My Friend!!!

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