A administração pública de Ouro Preto é um grande desafio. A sua complexidade se impõe por vários motivos: cidade histórica, com traçado do Século XVIII mas com um dinamismo urbano e vivencial do Século XXI; tombada desde 1938 pelo IPHAN, no seu conjunto urbano, edificações e ruas, o que estabelece limites e obrigações para a gestão; topografia íngreme e com geologia instável, dificultando intervenções de serviços públicos e poucas alternativas para expansões urbanas; treze distritos, alguns com densidade populacional próxima de oito mil habitantes e mais de 20 povoados; cidade de serviços e com pouca opção para projetos industriais; Prefeitura com três mil empregados e sem sobras de recursos para investimentos na melhoria e expansão dos serviços públicos, alguns notoriamente deficientes; máquina de arrecadação tributária ineficiente.
Mas, por outro lado, tem qualidades que são raras e competitivas mas, infelizmente, ainda pouco geradoras de efetivas resultantes econômicas e sociais para a cidade tricentenária. São elas a fama internacional como exemplar bem preservado de cidade de traçado e arquitetura setecentista luso-brasileira, atraindo turistas de todo o mundo; localização central nos mapas mineiro e brasileiro, que lhe garante competitividade como destino turístico, com boa acessibilidade; e, como fator também pouco explorado, sedia uma universidade que mantém ensino superior de engenharias, farmácia, arquitetura, economia, direito, história e medicina, entre outras, que poderiam trazer muitos e qualificados benefícios para a cidade.
Estas são reflexões importantes e atuais inerentes ao momento atual e ao futuro da cidade. E que deveriam estar presidindo o debate político que se inicia com vistas às eleições municipais deste ano. É normal que o jogo político ainda se faça em escolhas de nomes e partidos mas seria salutar que ajustes e disputas avancem para o campo das ideias, propostas, diagnósticos e projetos. Sem debates a disputa permanece na velha política, nas vaidades pessoais, na mera busca pelo poder, na repetição do mesmo. É igualmente saudável que surjam novos nomes, mas com desejável renovação de ideias, evitando a perpetuação de lideranças antigas e não atualizadas no debate político e administrativo.
Um olhar, mesmo breve, do que ocorre no mundo e no Brasil mostra claramente que a renovação política, através de propostas e ideias, é essencial na busca de um novo tempo, na construção de novos caminhos, novos rumos, novas soluções. Sem o debate esclarecido e avançado, com a modernidade que a evolução contemporânea revela, estaremos repetindo o “mais do mesmo”, velhas fórmulas que atendem apenas a interesses pessoais, a continuidade de mandos. A rigor, não deve haver restrição de nomes desde que ocorram avanços no campo programático.
O apelo ao debate na campanha eleitoral é antigo e até ingênuo face aos rumos que a política ouro-pretana tem tomado. Mas precisa ser cobrado sempre.
Como já citamos, a cidade é peculiar, nas suas dificuldades e também facilidades mas falta planejamento amplo, objetivo, viável e operacional, atualizado com relação às novas realidades e sua evolução para o bem e para o mal. É tempo de transformações e Ouro Preto, que tanto deu para a formação da nacionalidade brasileira, na Colônia, no Império e na República, sede de uma grande e antiga universidade, que atrai simpatia e solidariedade internacionais, tem tudo para dar um exemplo de debate político sério, responsável e compatível com o mundo contemporâneo.
*Jornalista (mwerkema@uol.com.br)