Minas tem 853 municípios e cerca de 6.500 distritos e povoados. Ouro Preto tem 13 distritos e cerca de 60 subdistritos e povoados, numa intensa ocupação territorial que decorre do Século XVII e da mineração de ouro, que procura sempre novos veios e funda novas arraiais. Com a exaustão do ouro, por volta de 1760, busca-se terras mais férteis para subsistência além da ocupação inicial no Vale do Tripuí. Ouro Preto tem um grande território, de 1245.865 km², em região centralizada no mapa mineiro, conhecida como Quadrilátero Ferrífero em função das suas grandes jazidas de minério de ferro. Montanhoso, de solo pobre com exceção de alguns distritos, a economia ouro-pretana, tipicamente urbana e muito pouco rural, concentra-se na mineração e no setor serviços, com destaque para o turismo, educação e urbanos. O conhecimento destes dados e destas vocações é essencial no planejamento da histórica cidade e esta realidade natural condiciona a vida urbana, as atividades empresariais e econômicas e permite analisar seu perfil demográfico e humano.
Ouro Preto nasceu nos anos de passagem entre os séculos XVII e XVIII, numa rápida ocupação do território, com o nome de Vila Rica, que se mantém até 1823 quando Dom Pedro I lhe dá o nome de Imperial Cidade de Ouro Preto, originária do ouro escuro decorrente da mistura do vanádio encontrado nos veios auríferos. Ouro Preto fez história na Colônia, no Império e na República, ajudou a conformar a nacionalidade brasileira em vários momentos e episódios. Seu excepcional acervo artístico e patrimonial lhe conferiu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade (Unesco/1980) e o tombamento do seu núcleo histórico pelo IPHAN desde 1938. Mas, por todos estes atributos e heranças, é cidade complexa para a gestão pública e acumula questões e carências que ainda precisam de soluções ousadas.
O IBGE aponta população de 74.281 habitantes em 2019 mas revela crescimento demográfico menor comparativamente às taxas dos anos de 1950 a 1980, em que dobrou o numero de habitantes que, sem opção de ocupação urbana, subiu para as encostas, cobriu as vertentes da Serra do Ouro Preto e ultrapassou a Rodovia do Contorno em direção ao Itacolomi. Tais ocupações acrescentam questões e demandas para a gestão municipal e a qualidade de vida de imensas parcelas da população. A estabilização do crescimento populacional oferece, neste momento, oportunidade de planejamento das expansões e ainda a oferta de áreas além das pertencentes ao núcleo histórico, tombado e protegido pelo Plano Diretor. É tema para a discussão eleitoral que já se trava e que precisa alcançar objetividade e realismo.
O Tribunal Regional Eleitoral informa que o eleitorado de Ouro Preto em 2019 é de 60.712. Mas revela, cotejando os dados do pleito de 2016, uma grande renúncia dos eleitores. Júlio Pimenta, prefeito eleito, teve 20.770 votos, Caio Bueno alcançou 15.016, Feijoada teve 7.083 e /Guilherme Peret 1.055. Abstenção, nulos e brancos alcançaram cerca de 14 mil eleitores, percentual elevado. O TRE revela, por outro lado, na análise comparativa da evolução do eleitorado, um grande crescimento nos últimos anos do eleitorado, como resultado das campanhas realizadas pela Justiça Eleitoral. E um aumento do interesse da população pela política.
E interessante verificar a votação dos vereadores: os mais votados são Chiquinho de Assis, com 1.482 votos, Thiago Mappa com 1.370, Marquinho do Esporte, com 1.317 e Zé do Binga com 1.224. Os menos votados foram: Luciano Barbosa, com 824 votos, Wander Albuquerque, com 878 votos e Paquinha, com 943 votos. A inexistência de coligações nesta eleição deve mudar bastante os resultados eleitorais. No eleitorado de 2016, as mulheres eram 51,25% e 48,62% homens. Quanto à idade, a distribuição é de cerca de 10% por cada faixa.
É muito importante para os candidatos, e para os ouro-pretanos preocupados com a cidade e sua população, uma leitura dos dados apresentados pelo IBGE e pelo IPEA. O Ideb (Índice de Desenvolvimento Humano) de Ouro Preto é de 4,4%, muito baixo para a importância histórica, cultural, econômica e turística da cidade. Um percentual de 35,1% da população ganha em torno de um salário mínimo, resultado de pobreza e desigualdade social, que tem uma incidência de 28,54% da população. O IPEA registra um percentual de 24,5 % para a população desocupada, sem vínculo empregatício ou atividade remuneratória permanente. A arrecadação municipal registrou R$ 289.340 mil em 2019 mas deste montante um total de 78,3% são de fontes externas, ou seja, não resultam de impostos e taxas recolhidas da cidade, o que demonstra uma dependência inconveniente. Estes são alguns dados disponíveis que recomendam, na discussão eleitoral, debates e análises mais profundas.
*Jornalista (mwerkema@uol.com.br)