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Carta aos Tempos
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2021: incertezas, confinamentos, fechamentos e falências

Não há como, no nosso cenário atual, contarmos com previsões mais seguras, e viáveis, sobre este ano de 2021 quanto ao controle da epidemia. Surgem, a cada momento e de várias regiões, notícias sobre sua mutação gênica e maior transmissibilidade, ampliando o contingente de contagiados. E, no caso brasileiro, é notória a resistência às condutas exigidas por um maior controle de propagação, especialmente a paralisação de todas as atividades não essenciais. E paira sobre tudo isto a constatação de que o Governo Brasileiro não se preparou devidamente, no tempo certo, para a aquisição de vacinas, programa de sua distribuição e planejamento de vacinação e mesmo uma campanha educativa e esclarecedora sobre a imperiosa necessidade da vacinação e das condutas essenciais para se evitar sua propagação. Assistimos, sobretudo nos últimos dias, o colapso de hospitais, sem leitos e o oxigênio que preserva vidas. E as vacinas, até agora, não estão garantidas as 300 milhões de doses necessárias para vacinar, por duas vezes, uma população de 210 milhões de brasileiros.

Não há como fugir, evitar ou negar, a imperiosa necessidade de contenção, ou redução ou mesmo interrupção plena, de algumas atividades potencialmente propagadoras da epidemia. Mas é justo, e mesmo indispensável, que os programas de contenção levem em conta que não é possível a paralisação completa e indiscriminada de atividades. Em um ano de epidemia já devemos ter aprendido como reduzir a contaminação mas sem levar à falência o comércio e outros serviços básicos, como estabelecer horários mínimos de funcionamento, evitar aglomerações, limitar lotações em 40% da capacidade, compras eletrônicas, entregas domiciliares e exigir higienização com máscaras e uso de álcool. Importante também o controle de custos e impostos para o que os governos podem estabelecer para evitar falências plenas.

Conter a epidemia é responsabilidade de todos. Mas também dos governos que devem estar preparados, e não os serviços de saúde, para contribuírem para a contenção geral da propagação, especialmente com esclarecimentos e condutas claras para a população sobre a doença e as condutas de prevrnção e tratamento preliminar. Às prefeituras, por sua proximidade com as populações, por sua gestão da atenção primária em saúde, por seu conhecimento das peculiaridades ou dificuldades locais, cabe atuação essencial. E também coibir as reuniões indevidas, com a indispensável fiscalização e mesmo ação policial repressora. E um diálogo com os empresários pode ajudar a encontrar meios seguros de convivência e evitar falências.

A epidemia se estenderá por quase todo o ano de 2021, segundo a opinião dominante dos especialistas. Duas doses da vacina, nesta grande população, em país de imenso território, sem termos certeza de que teremos quantidade suficiente para todos em tempo útil, são incertezas que persistem. E até agora constatamos uma notória ineficiência do Ministério da Saúde que não consegue elaborar um planejamento nacional e em estabelecer uma efetiva e competente liderança de todo o complexo processo de combate à epidemia. 

A crise brasileira tem muitas pautas. Mas a mais importante, e da qual não se pode fugir, é o combate à epidemia. Não se trata de um debate ideológico embora não se possa evitar avaliações e julgamentos de atitudes e condutas levianas ou ineptas, públicas e privadas. A crise no Ministério da Saúde, com a demissão de dois ministros, é obvia. A ausência de ações gerenciais e falta de planejamento consistente são obvias. O atraso na compra de vacinas é grave. Por que não se estimulou a produção de uma vacina brasileira pelos institutos como Butantan ou Fiocruz com notória capacidade para tal? Como podem autoridades governamentais estimular o negacionismo e desacreditar o valor das vacinas? E dar curso às narrativas conspiratórias e à histeria de debates e teses estranhas nas redes sociais? São, finalmente, assuntos que o Brasil precisa discutir e avaliar, até porque ainda é ampla a incerteza sobre a permanência da epidemia neste 2021, que está apenas começando.

*Jornalista (mauro.werkema@gmail.com)

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