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Carta aos Tempos
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Política e economia em tempos de incertezas

Economia e política andam juntas em todas as teorias econômicas, não nos modelos, mas nos processos governamentais. Mas no Brasil parece que separam-se, no momento, em seus processos evolutivos. Parece que a economia, após um ano e meio de estagnação devida à epidemia, que restringiu atividades empresariais e reduziu drasticamente o consumo, vai se separando da política e segue caminhos próprios, de sobrevivência e superação da crise. Ou seja, crescem as atividades econômicas apesar do conflito político que envolve o governo e alcança o Legislativo e o Judiciário. É o que indicam os números da economia que já assinalam uma retomada de atividades, embora ainda limitados pelo ritmo lento da vacinação que ainda não supera os 20% da população vacinada duas vezes.

Já o PIB, medidor principal do crescimento econômico, aponta para um crescimento que pode situar-se em torno de 4,5% neste 2021, quando resultado de 2020 foi de menos 4,1%. O setor agropecuário hoje o principal segmento da economia brasileira, com um desempenho excepcional, aponta para um novo crescimento que consolidará a posição brasileira como um dos “grandes celeiros do mundo” e fortalece preponderantemente a balança comercial brasileira. O setor comercial também apresenta números de recuperação, com os consumidores voltando ao ritmo de compras da pré-epidemia. O setor industrial também mostra recuperação, em a reação à melhoria do consumo. Igualmente cresce o setor serviços, paralisados em vários segmentos devido à epidemia, como mostra o setor turístico, que engloba muitos setores e atividades.

Mas existem gargalos, a começar pela ainda elevada incerteza com relação às crises e conflitos políticos, que desestabilizam ações governamentais e atemorizam os mercados que acabam por reter investimentos, temerosos da instabilidade. A evolução da CPI da Pandemia, com novas denúncias de corrupção na compra de vacinas, entre outras mazelas do Ministério da Saúde, afeta a macroeconomia e perturba a estabilidade e a confiança, dois fatores essenciais para o investimento empresarial. Cresce a oposição ao presidente da República, manifestações ganham as ruas, a insatisfação eleva-se a índices alarmantes para o presidente e seus governos, causando incertezas. 

Coloca-se em discussão o próprio processo eleitoral e a realização das eleições de 2022, com graves ameaças ao regime democrático, duramente conquistado pelo Brasil após 25 anos de regime ditatorial. Pronunciamentos militares indevidos perturbam o processo democrático e atropelam instituições. É clara a possibilidade de aventuras que atentem contra a democracia brasileira. Como também está em debate aberto as possibilidades de impedimento do presidente da República, pedidas por mais de uma centena de proposições apresentadas ao Congresso Nacional. E agora surge no horizonte, como uma nova ameaça à estabilidade econômica, a possibilidade de um novo apagão de energia, com a crise hídrica e a gestão temerária do sistema nacional de produção e transmissão de eletricidade.

Dois outros indicadores não são bons para o Brasil de hoje: o número de desempregados alcança 14,5 milhões de brasileiros, aumentando penosamente o número de excluídos dos mínimos bens de sobrevivência, como moradia, alimentação, educação, saúde. Outro indicador negativo é o da inflação, que já alcança 8% e poderá chegar a perto de 9%, desestruturando custos e preços. De resto, a dívida pública brasileira, aproxima-se de R$ 5 trilhões enquanto o déficit público previsto para 2021, aprovado pelo Congresso nacional, é de R$ 803 bilhões, resultado em sua maior parte dos elevados gastos com a epidemia. São números que dificultarão o Brasil de incentivar a retomada do investimento público essencial à retomada econômica. Trata-se de um debate que precisa ser feito, e com urgência, mas que os conflitos e crises acabam por impedir.

Ao mesmo tempo surgem previsões de que o mundo passará por um novo ciclo de desenvolvimento econômico, com retomada de investimentos, em razão do controle da epidemia, que já se antevê para os fins deste 2020. É claro que os cuidados não farmacológicos deverão continuar e até já se prevê uma terceira vacinação. A indagação fundamental é se o Brasil estará apto a participar deste novo momento de crescimento econômico, recuperando prestígio internacional, conseguindo novos parceiros e recebendo investimentos?

*Jornalista (mwerkema@gmail.com)

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