Mauro Werkema
O encarecimento do custo de vida no Brasil, que penaliza os mais pobres, é a o que mais atormenta os brasileiros neste final de ano. A inflação oficial está um pouco acima dos 10% mas vem ocorrendo vários reajustes, em produtos e serviços básicos, que vão além deste percentual, como é o caso da cesta básica alimentar. Vários produtos foram reajustados em mais de 20%, mesmo os de primeira necessidade, com reajustes alcançando 40%. É claro que a epidemia, que caminha para dois anos, é responsável, em grande parte, por estas distorções na medida em que aumenta custos na cadeia econômica. Mas há também, e não podemos descartar, a voracidade dos aproveitadores de sempre, além da incapacidade dos governos de elaborar e implantar uma política econômica que reduza os impactos da crise.
Para agravar ainda mais a situação ocorre uma elevação no desemprego, que já atinge a 14% da população brasileira, ou seja, 28 milhões. Hoje, nas grandes cidades principalmente, vemos um elevado número de moradores de rua, a parte visível e mais dramática da pobreza brasileira. Deserdados do mundo, sem família que os ampare, sem lar fixo, sem emprego, sem condições de acesso ao mercado de trabalho e a uma vida de mínima dignidade, habitam as ruas em espetáculo triste e de deprimente observação. Em Belo Horizonte, uma estatística atual da Prefeitura dava conta de mais de duas mil pessoas nesta condição.
A relação entre o custo dos alimentos, em elevação, e os desemprego, torna ainda mais difícil a situação dos mais pobres e o resultados é o aumento da fome, da miséria e da doença no Brasil. É penosa esta constatação mas não há como fugir dela, como vem apontando os institutos de pesquisa e de análise econômica. A consequência é o aumento da desigualdade social, traço que expressa penosamente a realidade da população brasileira. E o mais grave é a falta, no momento, de perspectivas de melhoria desta situação econômica, mesmo quando a epidemia, por força da vacinação, vai reduzindo o número de mortes e de infectados.
A previsão de crescimento divide os analistas. Ano passado tivemos um PIB negativo de menos 4,1% e as perspectivas para este ano, ainda em debate com opiniões diversas, não deverá ultrapassa os 2% positivos, mesmo se ocorrer reação positiva com a redução dos impactos da epidemia. Mas, ao mesmo tempo, novos impactos negativos são surgindo, como o custo da gasolina, que já passa dos R$ 7.00. O aumento do diesel é pior ainda para o custo de vida, pois dele depende o transporte de mercadorias no Brasil, feito em 90% por caminhões. E o gás de cozinha, que atinge todas as famílias, é outro fator de elevação do custo de vida e da inflação.
Eleva-se também o dólar na medida em que o Real se desvaloriza. E o dólar impacta vários preços, especialmente dos importados, inclusive a farinha de trigo que produz o pão. Enquanto isto o Banco Central eleva os juros para estancar aumentos, embora a Selic, que corrige preços no mercado, já esteja em 7,2%, com previsão de mais aumentos. Pesa também no custo de vida a tarifa de energia elétrica com os reservatórios hidrelétricos vazios e não temos ainda suficiente energia solar e eólica. Esta é outra questão grave que o período de chuva pode corrigir mas é preciso investir no modal energético para reduzir a dependência hidrelétrica.
Enfim, é o Brasil, dizemos desesperançados com o quadro atual e sem perspectivas no horizonte de médio prazo. País continental rico de solo e subsolo, terras férteis, costa marítima de oito mil km, sem vulcões, terremos, tisunames. E com uma diversidade cultural imensa, que permite ao brasileiro uma reconhecida criatividade e capacidade de trabalho. Mas, antes de qualquer coisa, é preciso mudar a classe política, que é mais voltada para si própria e não para a necessidade do povo. Triste realidade.
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