Os destinos turísticos mineiros vivem um momento de grande demanda. O fenômeno alcança principalmente os destinos mais próximos das grandes cidades e situados até 250 km de distância dos centros emissores, permitindo viagens curtas com uso do “automóvel e do asfalto” e realizando o que os turismólogos dizem ser “a fuga do urbano”. É claro que esta conduta reflete, em sua maior parte, a ânsia das pessoas de saírem do recolhimento domiciliar imposto pela pandemia e reflete, portanto, o desejo de conviver com novos lugares, novas pessoas, novos e prazerosos momentos, numa espécie de compensação pelo isolamento a que foram submetidas nos últimos quase dois anos. O resultado é bom para os destinos turísticos que experimentam fortes demandas, como mostra a ocupação de hotéis, pousadas, restaurantes, pontos de visitação. O que permite que ganhem mais recursos, refazendo receitas perdidas na epidemia.
Mas o fenômeno deve permitir uma reflexão sobre a qualidade do chamado “turismo receptivo”, ou seja, como os destinos estão recebendo seus hóspedes e o que podem fazer para que a boa e satisfatória acolhida resulte em um efetivo e permanente crescimento da demanda. O fato é que o crescimento súbito dos visitantes expõe falhas, carências e desorganizações em diversos serviços que contribuem para a satisfação do visitante e que o estimulam a retornar. O fenômeno é sentido muito claramente em Ouro Preto, principal destino turístico de Minas e um dos mais conhecidos do Brasil, expondo falhas nos atendimentos.
É hora, portanto, de corrigir erros e qualificar os prestadores de serviços, de toda a cadeia do turismo, ganhando em qualificação do destino e estimulando retornos.
O turismo receptivo eficiente e garantidor de qualidade exige um bem-organizado sistema integrado de prestação de serviços, que deve se distinguir pela qualidade. O turista deve obter informações dos destinos e seus atrativos nos meios de divulgação, hoje otimizados e facilitados pela informação eletrônica. Então, a promoção via Internet e seus aplicados é fundamental e deve ser completa, ampla, detalhada, confiável, esclarecedora e, sobretudo, verdadeira. Estas informações são o primeiro passo de captação de clientes. E devem mostrar os meios de hospedagem, ofertas de alimentação, vias e meios de acesso, preços e a variedade de outros atrativos, culturais, naturais, artísticos e tudo que possa atrair, motivar e qualificar destinos. Esta é uma questão fundamental do mundo contemporâneo, informatizado.
É salutar discutir Ouro Preto, nosso exemplo maior. É preciso uma boa recepção ao turista, informando sobre os atrativos, seus horários, orientação do trânsito, local de estacionamento (este um grande e antigo problema, ainda sem solução), roteiros de deslocamento, horários de visitação, as ofertas culinárias típicas, os atrativos raros e singulares, senão únicos, a presença de guias capacitados, a cidade limpa, a existência de segurança pessoal e patrimonial, folheteria de qualidade (esta outra carência), a capacitação do pessoal de atendimento, nos hotéis, restaurantes, pontos de visitação e muito mais. Outra questão importante é dada pelos altos preços, alguns extorsivos, que exploram o turista e não o turismo e que flutuam conforme momentos de maior ou menor demanda. O turista percebe e se afasta.
Tudo isto capacita os destinos a perpetuarem-se como recebedores de visitantes de maneira permanente. O momento vivido, nesta pós-epidemia, permite avaliar toda a cadeia de prestação de serviços do turismo e identificar e remover obstáculos, erros, omissões, incapacidades. Esta é a hora uma vez que a demanda aumentada permite colher sugestões, opiniões e avaliações. Os gestores públicos do turismo, mas também os prestadores de serviço, precisam saber que o visitante é uma pessoa que deseja ser bem recebido, paga por isto, tem opiniões e faz julgamentos, é sensível a quaisquer falhas. E precisa saber, sobretudo, que o turismo e sua imensa cadeia de ofertas, está no setor serviços, que o mais sensível de todos da economia moderna. E que um destino pode extinguir-se, ou perder sua reputação e fluxos turísticos, se não cuidar da qualidade do serviço prestado. E, finalmente, é muito importante lembrar que a gestão eficiente do turismo não se faz somente pelo setor público ou os administradores públicos eventuais. A responsabilidade é de todos que trabalham na recepção e orientação ao visitante, em todos os seus momentos.
Enfim, é possível que o fenômeno eventual deste pós-epidemia seja bem aproveitado para corrigir carências e distorções e, com isto, manter o fluxo extraordinário de visitantes. É bom lembrar também que o turismo é um forte gerador de emprego e renda, em giro rápido, capaz de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas e empresas que atuam neste setor. Mas exige qualidade e gestão eficiente e voltada para a satisfação do cliente.
*Jornalista (Mauro.werkema@gmal.com)