As estatísticas relativas à contaminação pelo Covid-19, as internações e mortes, mostram um progressivo controle da epidemia. Não quer dizer que esteja controlada ou caminhamos, em breve tempo, para a sua extinção completa. Ao contrário, concordam os epidemiologistas que o vírus, resistente, permanecerá no mundo e, vez por outra, ressurgirá só agora com maior conhecimento da Medicina e com cuidados já comprovados. Nem por isto quer dizer que podem todos voltar à normalidade da vida conglomerada irresponsavelmente, com exposições exageradas. Mas a vacinação, vendido o negacionismo e a ignorância, já mostra uma estatística confiável da segunda dose e caminhamos para uma terceira, de reforço, que garante efetiva imunidade.
Mas o fato concreto é que o retorno de várias atividades vai se tornando possível, ainda com as previsões do uso de máscaras e o cuidado de evitar exposições desnecessárias. O comércio já retorna com sucesso, mantendo os cuidados. E mostra um bom desempenho, que será melhor ainda com o Natal. Os serviços empresariais ainda adotam o sistema híbrido quando possível e a tendência e que permanecrão por mais tempo e, em vários casos, com sucesso, devido ao avanço da tecnologia da informação. Mas grandes desafios ainda perturbam o retorno pleno de atividades. Um deles, bem próximo, e que divide opiniões, é a realização do Carnaval. Agremiações carnavalescas, em geral, querem o retorno do Carnaval como também os foliões. Mas assunto ainda é controverso e gera preocupações necessárias.
Ainda são divididas as opiniões dos epidemiologistas, que temem a propagação do vírus, o que seria previsível em razão das aglomerações excessivas, e naturalmente descuidadas, da maior festa popular do Brasil, que atrai multidões às ruas e naturalmente descuidadas com a alegria natural da festa carnavalesca. Algumas cidades permanecem em dúvida: em Belo Horizonte a Prefeitura diz que não apoiará a festa mas respeitará os foliões que vão às ruas, escolas de samba, blocos. Em Ouro Preto, Mariana e Itabirito as Prefeituras liberam o Carnaval mas persiste o debate de que é preciso haver restrições que possam coibir excessos e situações de maior contágio. Mas sabe-se que o controle da multidão é difícil. Como manter distanciamento ou obrigar a todos o uso de mascaras?
A realização do Carnaval não interessa somente aos foliões. Interessa também ao comércio em geral, à cadeia do turismo, restaurantes, hotéis e pousadas e muito mais. O Carnaval, que é da alma do brasileiro, é momento de descontração, de alegria, de extravasamento, de música, dança e sátiras, que domina a todos, dos jovens aos mais idosos. E o brasileiro, recolhido em casa por quase dois anos, está precisando de convivência alegre e com a espontaneidade do Carnaval, festa que tem no Brasil grande expressão e participação popular.
Ainda não sabemos se Belo Horizonte, que atraiu milhares de foliões, de Minas e mesmo de outros Estados, vai repetir as surpreendentes festas dos últimos quatro anos. E que tirou públicos das cidades históricas, especialmente Ouro Preto. A previsão é que haverá Carnaval em Belo Horizonte, por iniciativa de blocos de rua e algumas poucas organizações carnavalescas. Mas o temor com a epidemia e a falta de apoio da Prefeitura certamente farão com que a festa seja bem menor. Os carnavalescos lamentam pois a grande festa popular tomou, nos últimos anos, a partir da gestão do prefeito Márcio Lacerda, grandes dimensões, com mais de 300 blocos de rua, retomada dos desfiles de Escolas de Samba e Blocos Caricatos, concentrações populares, despontando com um dos maiores carnavais do Brasil. Foi um fenômeno surpreendente pois BH ficou muitos anos praticamente sem Carnaval, a ponto de se acreditar que o belorizontino era acanhado, retraído, resistente à alegria e a exposições públicas.
Mantidos os cuidados recomendados, evitando exageros, é possível se realizar bom Carnaval, conforme parece ser uma aspiração popular e dos agentes econômicos que ganham com o aumento do consumo de serviços. No mais, é justo lembrar que o brasileiro está a merecer três dias de descontração, de alegria, de dançar e pular, esquecendo as dificuldades por que passa este imenso Brasil, o desemprego, o custo de vida, os impasses políticos, as incertezas da economia e de um 2022 eleitoral, que não permite maiores otimismos ingênuos. Afinal, um pouco de alegria, em meio a tantas notícias ruins, é algo que todos nós queremos para tornar mais leve a alma, mesmo sabendo que os impasses brasileiros vão exigir decisões e embates mais fortes e consistentes.
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