O término de 2021 nos convida a refletir sobre 2022 e, inevitavelmente, pensar sobre o ano que finda e como está o nosso Brasil. É opinião dominante entre os analistas da política e da economia que vivemos momento grave na história contemporânea brasileira, a exigir reflexões objetivas sobre as inúmeras questões que afligem e dificultam a evolução do país em direção a condições que permitam a construção de uma sociedade socialmente mais justa, menos desigual, que retome o crescimento econômico, que tenhamos governabilidade em favor de todas as necessidades do povo e capazes de realizar as transformações de que tanto precisamos, sempre anunciadas mas não realizadas. Esperamos, enfim, que a disputa eleitoral deste 2022 pense mais no Brasil e no seu futuro desejado.
E que, fundamentalmente, nas eleições de 2022, já em debate, desejar que possa fazer renascer a esperança do povo brasileiro por tempos melhores, com governos e classe política trabalhando de maneira efetiva e compromissada para resolver questões básicas, como a eliminação da pobreza extrema que avança no Brasil, contenha o elevado desemprego, que já atinge 13 milhões de brasileiros, elimine a inflação que desorganiza a economia e já atinge dois dígitos, reduza o custo de vida que encarece a alimentação e outros custos indispensáveis à vida e aumenta ainda mais a já gritante desigualdade brasileira. E que a epidemia seja eliminada definitivamente. E que sejam debatidos os muitos problemas que penalizaram a vida dos brasileiros, especialmente dos mais pobres.
Há vários anos o Brasil cresce menos que os países desenvolvidos. E, quanto aos dois últimos anos, de resultados negativos, não se pode buscar explicação somente na epidemia. É fato, inconteste, que o governo federal não conseguiu implementar as reformas básicas capazes de modernizar o setor público e incrementar a economia. Reforma política, reformas monetária e fiscal que elimine distorções tributárias, reforma dos serviços públicos, entre outras, podem ser esquecidas neste ano eleitoral em que as preocupações se concentram na busca de votos e nas composições político-partidárias, sempre em busca de novas acomodações, aproveitando-se da fragilidade das agremiações políticas, sem doutrina, sem sustentação ideológica, ao sabor de ajustes pessoais e facilidades eventuais.
Os analistas da conjuntura brasileira atual apontam diversas distorções, em vários campos e setores da organização governamental e na gestão pública e que causam a paralisia econômica e a baixa geração de empregos. Vencer este ciclo de estagnação exige ação governamental livre de populismos e falta de visões sustentáveis, condições que, infelizmente, não animam as gestões públicas no Brasil. Certamente as retóricas eleitorais tentarão tratar destes temas mas o que a realidade da classe política brasileira, especialmente a que está no Congresso Nacional, tem nos mostrado, com raras exceções, é que dedica-se mais a obter vantagens e cooptar recursos públicos, como demonstra o vergonhoso “orçamento secreto”, que desvia recursos públicos já escassos para conquistar apoio político e parlamentar.
O Brasil precisa de grandes mudanças. Mas os pressupostos básicos desta transformação não são fáceis em um país em que classe política, as elites e mesmo as lideranças empresariais são incapazes de compor uma pauta comum que com bata as mazelas nacionais e implante uma pauta desenvolvimentista. Seria justo esperar que as eleições de 2022 tragam mudanças efetivas e transformadoras. No entanto, uma agenda de desenvolvimento implica em mudanças radicais em amplos setores da vida brasileira, em cortar privilégios, em investir em educação, em ciência e tecnologia, em gerar recursos para investimentos em setores da infra-estrutura, em ter orçamentos públicos realistas e com sobra de recursos para investimentos, em eliminar entraves que dificultam a atividade empresarial, em eliminar inúmeras distorções que persistem, dissimuladas e alicerçadas em privilégios.
A disputa eleitoral, como sempre, trará propostas que muito prometem mas que o passado já mostrou seus fracassos. O momento vivido pelo Brasil é grave, muito preocupante, complexo e conflitivo. Deveriam as eleições propiciar uma reflexão bem mais profunda sobre a realidade que vivemos. Afinal, há ampla concordância que o Brasil, pelo seu vasto território, pela amplitude e qualidade de seus recursos naturais, pela criatividade de sua população, deveria já ter alcançado um estágio bem mais avançado de desenvolvimento, com menos pobreza, menos desigualdade, maior integração ao mundo contemporâneo, desenvllvido, com taxas de crescimento econômico igual às melhores nações. Que venha 2022, ano do bicentenário da Independência, com renovação de governos e classe política para a evolução do Brasil.
(mauro.werkema@gmail.com)