Mauro Werkema
Os analistas econômicos preveem para esta próxima semana os impactos maiores na vida dos brasileiros em decorrência da guerra Rússia-Ucrânia. Alguns reajustes de preços e custos ainda não permitem prever com exatidão os percentuais de reajuste além dos que já são praticados, vários especulativamente. A Petrobrás anunciou aumentos de 19% na gasolina, mas os especuladores e aproveitadores, nos postos, já cobram mais; o gás de cozinha, essencial á vida de todos, terá reajuste de 16% e o diesel de 25%, este último com repercussões amplas em vários preços, pois atinge o custo de fretes dos transportes rodoviários, de que o Brasil é altamente dependente por falta de ferrovias. A falta do trigo da Rússia, o encarecimento dos produtos que vêm da Argentina, atingem vários custos que sustentam a mesa dos brasileiros, pães, massas. E o Brasil não terá fertilizantes para sustentar a totalidade que sua safra exige, por falta do potássio, também russo, que o Brasil não produz, embora tenha jazidas, especialmente em Minas Gerais, não exploradas.
A inflação poderá chegar aos 10% anuais e a Selic, que define o custo dos juros, irá para 12%, já estando no momento em 10,7%, com amplas repercussões nos investimentos, nas dívidas públicas, nas transações comerciais, em escalada ainda imprevisível. Esse ciclo vicioso de mais inflação se desdobra em vários custos empresariais e causa a retração dos consumidores, naturalmente preocupados com seus orçamentos domésticos e com o custo de vida. A desigualdade brasileira aumentará e os excluídos da economia sofrerão ainda mais. Vivemos o mundo globalizado, interconectado e interdependente, que permite que em casa possamos assistir, quase em tempo real, os dramas das populações que fogem dos territórios bombardeados.
Rússia, e sua aliada a China, já estão rigorosamente em guerra com o Ocidente, além das incursões militares. É improvável que os conflitos bélicos possam ir além da Ucrânia mas a guerra econômica, financeira, midiática, de cooperação universal, permite traçar uma nova geopolítica. O mundo ocidental, sob a liderança dos EUA, que retoma a guerra fria após 1945, que gerou a Otan, deverá permanecer aliado nas sanções do novo polo mundial de poder, que são as restrições econômicas. Será possível isolar o poder russo-chinês por mais longo prazo, sem diálogo com o Ocidente? É claro que a limitação da influência dos EUA no mundo tem na China, e seu formidável crescimento nos últimos anos, um novo fator. Uma nova ordem informativa internacional, hoje dominada pelos EUA, deverá surgir. E as economias europeias terão que se reajustar neste jogo político e econômico, em tempo que não será breve.
Como fica o Brasil? É a questão que se coloca. Sofrerá, em curto prazo, as consequências de guerra mas terá que aprender as lições e avançar na remoção de vários estrangulamentos e na dependência internacional. É uma discussão para a campanha eleitoral, que já chega. A situação internacional indica um “momento de virada”, do qual o Brasil, se tiver competência e visão de futuro, poderá aproveitar-se. Esta é a questão maior em meio às perplexidades deste novo mundo que surge da guerra e que exige debates, coesões, sustentações técnicas, científicas, econômicas e, sobretudo, políticas. E o que devemos esperar, Até apertamos o cinto, uma vez mais.
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