Lucas Porfírio
Quem passa pela BR-040, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enfrenta perigos constantes. Isso é o que aponta o relatório desenvolvido pelo engenheiro civil Hérzio Mansur, que realizou o levantamento do fluxo de veículos, sinistros e mortes ocorridos entre os quilômetros 583 e 617 da via, entre dezembro de 2020 e dezembro de 2022.
Morador de Belo Horizonte e titular de um cartório em Congonhas, o engenheiro conta que passa frequentemente pelo trecho. Conforme relatou, em 2019, ele foi vítima de um sinistro na rodovia. “Uma carreta me pegou de lado, me jogou na contramão e veio outra carreta. O carro descosturou. Eu mesmo não tive absolutamente nada”, explicou Hérzio.
De acordo com o estudo, durante o período analisado, houveram 272 sinistros no trecho, ocasionando 53 mortes, quase uma por quilômetro. Mansur reuniu os dados a partir da comunicação oficial da concessionária que administra a via 0-40, de informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), de notícias da imprensa e de compartilhamentos em redes sociais.
“Eu sempre vou atualizando o relatório. Sempre que tem alguma situação, eu anoto a data, o quilômetro, onde ocorreu, quais são os veículos envolvidos, se houve algum óbito no local”, pontuou o engenheiro.
Ainda, conforme o relatório, os pontos mais perigosos do trecho estão localizados nos quilômetros 588, 593, 611 e 614. Nesses locais, houveram mais de dez ocorrências no período. Já outubro foi o mês com o maior número de sinistros e julho o mês com o maior número de mortes. Os sinistros e ocorrências com morte aconteceram em sua maioria nas segundas-feiras, sendo 49 sinistros e 15 óbitos.
De forma detalhada, Mansur indica que nos 54 km (cinquenta e quatro quilômetros) analisados observa-se:
– ausência de balanças;
– longos trechos sem acostamento;
– afunilamento dos traçados da via para transposição de pontes e viadutos em mão duplas simples;
– deficiências, incluindo sua limpeza, nas sinalizações horizontais e verticais;
– manutenção precária do pavimento e da drenagem;
– pontos com drenagem insuficientes;
– intercessões entre vias rodoviárias e urbanas no mesmo nível e em cruzamento simples;
– alta sinuosidade;
– elevadas graduações de rampas;
– disponibilidade precária de passarelas;
– alto nível de utilização por parte de veículos (carros, caminhões, caminhonetes, ônibus, caminhões e carretas) de mineradoras.
O engenheiro ressalta que o alto fluxo de carretas e caminhões, muitas vezes de mineradoras, no local contribuem exponencialmente para o alto índice de acidentes. O relatório indica que 46,7% dos acidentes possuem o envolvimento de algum veículo pesado. Em relação aos óbitos, 28 tiveram o envolvimento de caminhões. “Nada contra carreta, nada contra o minério, nada contra a siderurgia. Mas dá para fazer diferente. Tem trecho da via que eu me lembro que em um dez minuto passou 61 (sessenta e uma) carretas”, destacou.
Outro ponto que chama a atenção do engenheiro é o projeto ultrapassado da rodovia federal. De acordo com ele, a BR-040 possui um traçado ultrapassado, do projeto e execução dos anos 50/60 que não dá conta das necessidades atuais. “Possui estradas que descarregam seu fluxo na 040. Não tem ali um trevo em dois níveis ou, pelo menos, uma rotatória maior, mais generosa, para acolher esses veículos que chegam. Tem a questão dos núcleos urbanos, o cidadão vai levar uma criança para a escola, ir ao supermercado, ele tem um raciocínio diferente de quem está trafegando pela via e quer vencer para ultrapassar o município”, completou.
Após a conclusão do relatório, Hérzio Mansur tem o intuito de chamar a atenção das autoridades responsáveis para as condições da rodovia. O documento foi encaminhado ao Ministério Público de Minas Gerais, ao Conselhos Federal e Regional de Engenharia e Agronomia (Confea e Crea/MG), ao Tribunais de Conta da União e do Estado (TCU e TCE/MG), Polícia Rodoviária Federal (PRF), ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Mineradoras que utilizam a via, usuários e outros.
“Eu peguei o estudo e enviei para vários órgãos, para as empresas também. O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) propôs montarmos um grupo de trabalho para discutir essa questão do trânsito. No ano passado (2022), nos reunimos e veio gente do Brasil inteiro, o pessoal que entende de trânsito mesmo. Levei o pessoal para fazer uma visita no trecho e, claro, ficaram horrorizados”, afirmou Mansur.
O grupo de trabalho propôs algumas medidas relacionadas à BR-040. Dentre elas: a criação de uma via paralela à BR-040, exclusiva para o transporte de minério, sendo a mesma custeada pelos fornecedores da commodity; saídas de escape em áreas de declive; a construção de faixas marginais de acesso à BR, principalmente, nos espaços com interfaces com malhas urbanas; trevos e rotatórias de desnível; a instalação de passarelas e de obstáculos físicos centrais nos 48 km que não possuem o dispositivo; a duplicação de pontes e viadutos que se apresentam com mão simples.
Em nota ao Jornal Correio de Minas, a Via 040, concessionária responsável pela administração do trecho, afirmou que, desde 2014, tem realizado diversas melhorias em relação ao pavimento, à sinalização, ao sistema de drenagem e também a segurança da via, com a implantação de defensas metálicas e barreiras de concreto. A concessionária garantiu ainda que busca ampliar a capacidade do sistema viário com a implantação de passarelas e duplicação de trechos.
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