Mauro Werkema*
O mais perverso indicador para uma economia é o que mostra um percentual elevado de pessoas com insuficiência alimentar. Ou seja, pessoas, famílias, que não tem refeições diárias satisfatórias e passam fome. E o índice está elevado no Brasil conforme revelam todos os indicadores que tratam da elevação da pobreza no Brasil, que vem batendo recordes, alcançando cifras dramáticas em regiões mais pobres, especialmente nas periferias das grandes cidades, onde estão os maiores aglomerados de baixa qualidade, classificados como favelas.
Os indicadores coincidem em apontar que a população classificada como estando em estado de pobreza está passando de 20% do total de brasileiros. O que coloca nesta situação perto de 40 milhões de brasileiros, considerada a nossa população atual, de 220 milhões. Outro indicador muito ruim é que nos últimos poucos anos houve um acréscimo de 3,8 milhões de brasileiros nesta categoria da pobreza, em situação de carência alimentar.
A situação piorou nestes anos por várias razões. A primeira delas é a epidemia que, por dois anos restringiu bastante o mercado de trabalho, reduzindo bastante o percentual da população empregada. Uma outra causa é a inflação elevada nos últimos três anos, tornando muito cara a cesta básica para uma alimentação de uma família. Os indicadores apontam um aumento superior a 20% dos principais alimentos. E outros custos básicos para a sobrevivência tiveram reajustes ainda maiores, como o gás de cozinha, a gasolina, a energia elétrica, transportes e vários outros indispensáveis à sobrevivência mínima de uma família.
Outra causa foi a extinção do auxílio emergencial, que agora retorna no valor de R$ 600,00, até dezembro e que, embora tenha motivação eleitoral forte, a menos de dois meses do pleito de 2 de outubro, tem justificativa social porque pode minorar um pouco o sofrimento das pessoas em situação de fome. A manutenção deste auxílio, assim como par o gás de cozinha e o apoio aos motoristas do transporte, terá que ser prolongado em 2023, uma vez que a situação da pobreza persistirá.
O contraditório desta grave situação é que o Brasil é hoje um dos maiores produtores e exportadores de alimentos para o mundo, especialmente grãos. Nesta situação é forçoso reconhecer que faltam políticas públicas que cuidem do planejamento alimentar das famílias. Já tivemos tais programas no Brasil, infelizmente extintos. Outra conclusão é que o enfrentamento da pobreza e seu aspecto mais desumano, que é a insuficiências alimentar, só será efetivamente resolvido quando tivermos no Brasil uma redução das desigualdades sociais. Desigualdades que só crescem.
A retomada do crescimento econômico também se torna essencial. Não é possível que um país, como o Brasil, com tantas terras ricas de solo e subsolo, com 8 mil km de costas marítimas, não tenha, na atualidade, um programa de crescimento econômico, incentivando todas as imensas potencialidades econômicas, industriais, agropecuárias, de serviços. O que precisaria investir mais em educação, em ciência e tecnologia, em estímulos ao empreendedorismo. Mas e a única maneira de voltarmos a gerar empregos.
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