Por Mauro Werkema
Vivemos “tempos impiedosos”, expressão que ouvimos em referência ao momento vivido pelo mundo, de que também não escapa o nosso Brasil. Temos guerras em curso e possibilidades bastante reais de aumento de divergências nacionais com ameaças de novos conflitos armados. Temos a Ucrânia e a Rússia, em guerra que expõe o confronto geopolítico entre o bloco Rússia-China e os Estados Unidos e Inglaterra. Temos o assustador confronto entre Israel e o Hamas e o Hesbolah, em que o ódio racial, religioso e territorial se revela em crimes hediondos de assassinato de populações indefesas, em genocídios à vista por todo o mundo. E até na pacífica América Latina já temos no horizonte um possível confronto armado entre Venezuela e Guiana. Um levantamento indica que persistem, pelo mundo, inúmeros outros conflitos, mais localizados, territoriais e raciais, também vitimando populações, expulsão e geração de refugiados. A guerra impera sobre o diálogo.
Simultaneamente, o mundo está sob ameaça pela assustadora crise climática. Temperaturas elevadas atingem populações e causam incêndios e alteram condições de vida em vários países. Mudanças climáticas causam ciclones, enchentes, desmoronamentos, expulsão de populações. Mudanças alteram os regimentos climáticos e causam inundações, transbordamento de rios em proporções nunca antes vistas. Ocorrem quedas na produção agrícola pela alteração do clima e regimes de chuva. O homem avança no desmatamento por incúria, ganância, inconsciência e absoluto descompromisso com a natureza que sustenta o clima e a vida na terra. É possível, a médio prazo, impedir a destruição da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do Cerrado?
Está claro que o homem realiza sobre a natureza ação destruidora incontida e impõe elementos e vetores que alteram leis naturais que regulam a vida e a sobrevivência da vida no planeta. A intervenção humana, incontida e altamente destruidora, já está devidamente demonstrada pela ciência mas a grande indagação, a dramática questão, é conter as ações que alteram ou destroem as condições essenciais à sobrevivência de vida na Terra, entre os micro-organismos, os vegetais, animais e humanos. Será possível conter, a tempo, as agressões à natureza e garantir sobrevivências.
O mundo se reúne atualmente em grandes congressos internacionais, desde a famosa e inaugural Rio-92. Acaba de realizar em Dubai a Cop-28, com imensas delegações de todo o mundo. As maiores autoridades nas questões climáticas discutem as emergências, identificam as fontes poluidoras, apontam urgentes necessidades de transformações. Mas os resultados concretos, reais, transformadores, permanecem aquém do necessário, segundo as mais avalizadas vozes ambientalistas. E continuam as previsões catastróficas. A constituição de uma governança global para a crise climática não avança. E também fica na promessa a criação de um fundo mundial, sob gestão do Banco mundial, para enfrentar as questões mais urgentes.
Calcula-se que só a América Latina e o Caribe perderam, em 2022, em torno de US$ 320 milhões com danos climáticos, conforme denunciado em Dubai. Terá o mundo condições de abandonar, e substituir, os chamados combustíveis fósseis como o petróleo, gás natural e carvão, que são os principais causadores do aquecimento global. E que geram o gás carbono que destrói a camada de ozônio que protege o clima na terra? O mundo terá que desenvolver, em curto prazo, novas fontes renováveis de energia, que exige mudanças radicais na economia, na indústria, no próprio modo de viver. O que é muito difícil, pelos custos, pelo alto investimento requerido, pela falsa de coesão da vontade política.
Cientistas preveem que nesta década o aquecimento global poderá aumentar em quase 2 graus. O que trará consequências gravíssimas para a vida de todos. E são pessimistas quanto às medidas impeditivas no tempo necessário. E não há ainda consenso amplo sobre estas medidas e os países industrializados ainda resistem. Eis, nesta rápida síntese, o imenso dilema do mundo apresentado pela questão climática. Mas a verdade é que vivemos também o impasse de guerras, contrariando todas as previsões fritas ao tempo da passem do Milênio, no Ano Dois Mil, quando se previu que o mundo poderia viver nova época, de paz, prosperidade, diálogo, convivência, humanismo, redução de desigualdades e maior justiça social. Até agora, ledo engano.
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