Mauro Werkema*
Perplexidade e incerteza são os sentimentos dominantes no Rio Grande do Sul. Mas que se estendem por todo o Brasil não só quanto à gravidade e o inusitado da dramática situação gaúcha, mas quanto ao futuro das populações atingidas, a reconstrução de cidades e ainda as incertezas de um futuro com a questão climática, sentimento que existe também em quase todo o mundo com o temor e possibilidade de extremismos ambientais. Por ora, é claro, todos os esforços e atenções tem que se voltar para amparar os atingidos, sem casa, sem possibilidade de retorno às atividades normais da vida, de sustentar seus empregos, e que precisam encontrar condições de normalidade para suas vidas.
Algumas conclusões sobre este dramático acontecimento do RGS já podem ser tiradas: o impacto sobre as mudanças climáticas pode ser mais vasto e severo do que pensávamos e os riscos estão aumentando; medidas de adaptação a estes novos tempos precisam ser tomadas com urgência em cidades e regiões de risco e vão demandas intervenções urgentes, inteligentes e caras, nem sempre fáceis e que vão exigir recursos também não disponíveis. E muito mais:
O planeta apresenta aquecimento de 1,1 grau, ocorrência sem precedentes na História, que já causa vários novos fenômenos climáticos. Inclusive a invasão das costas marítimas. Alguns fenômenos climáticos, preveem os cientistas, podem se tornar tão graves que não será mais possível se adaptar plenamente a eles e vão gerar perdas e danos. E mudanças de localização de cidades. É urgente, portanto, levar a sério e com objetividade esta nova situação, o que o RGS não fez, embora ocorrências anteriores já mostravam riscos e prenunciavam novas catástrofes.
Será que o mundo, embora já sobejamente advertido, em todas as reuniões climáticas, que existem desde a Rio-92, tomará efetivas providências para evitar a deterioração ambiental, poluições, destruições de reservas florestais, entulhamento dos cursos d’água destruição de árvores ciliares, o uso demasiado de combustíveis fósseis, a poluição do ar, a ocupação territorial urbana em áreas inadequadas. E muito mais questões, de há muito apontadas e discutidas nos encontros internacionais, mas que, até agora, não geraram ações concretas. No Brasil e no mundo.
A catástrofe ambiental do RGS precisa ser muito bem estudada. Houve inadimplência dos governantes? Quais as causas efetivas deste desastre, que já apresentava ocorrências anteriores? Há opiniões científicas consolidadas de que novas ocorrências estão por vir. E quais alternativas urbanísticas, e em áreas de risco, podem ser desde já tomadas? É possível que as mudanças climáticas exijam um novo urbanismo e este é um debate urgente, inclusive em Minas Gerais que já vem apresentando desastres climáticos? Enchentes, deslizamentos, atingem recursos naturais, expulsam populações, sempre as mais pobres e tudo isto necessita de um novo olhar, uma nova visão.
No RGS algumas cidades simplesmente terão que ser reconstruídas, exigindo ações vultosas em todos os sentidos. E impedir novas catástrofes também exigirá esforço imenso, administrativo, financeiro, rigoroso planejamento, transferência de populações, restauração de atividades empresariais, retomada de empregos e meios de sobrevivência. Constata-se que são ações de grande e complexa dimensão, mesmo com o generoso apoio do povo brasileiro aos atingidos no RGS. Será preciso mudança de mentalidades e esforço amplo eficaz.
É possível falar até em novos paradigmas para a vida urbana e mesmo em regiões potencialmente perigosas. É fundamental e urgente que se inicie esta discussão, em nível nacional, com apoio de cientistas, estudo de ocorrências e, sobretudo, quais medidas urgentes devem ser tomadas para proteger núcleos urbanos. Estas medidas existem, bastando ver o que fizeram na Holanda, com seus famosos diques, e em Nova Orleans, nos EUA, após o Furacão Katrina. Mas vão exigir um novo planejamento na ocupação dos solos e muitos recursos.
A catástrofe do RGS muda os paradigmas do debate ambiental e das catástrofes. É urgente um aprofundamento dos debates sobre prevenções. O Brasil sediará, no Pará, ano que vem, encontro internacional, a Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, e espera-se que o debate avance, além da questão próxima do desmatamento amazônico. Que diagnósticos de regiões de risco adquiriram novas visões, com recomendações objetivas, baseadas em visão científica. O Brasil voltou a ter voz internacional e espera-se que tenha opiniões consistentes até porque tem a dramática experiência do RGS para relatar e tirar conclusões objetivas. É o que se espera.
*Jornalista e historiador (maurowerkema@gmail.com)