Mauro Werkema
A crise climática e seus eventos extremos vieram para ficar. É a advertência unânime das agencias científicas e instituições que estudam as alterações climáticas que já vem ocorrendo nos últimos anos em todo o mundo. E que foram anunciadas nos últimos eventos internacionais sobre o clima e suas mudanças. No entanto, acidentes climáticos graves continuam ocorrendo em todo o mundo, como também no Brasil, como aconteceu no Rio Grande do Sul, de proporções extraordinárias. Tornou-se, portanto, problema mundial que está a exigir ações imediatas e de elevado montante e custos no sentido de evitar ou reduzir as dramáticas consequências. E o Brasil agora já pode avaliar bem o que podem destruir e causar vítimas humanas.
Já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconhecida especialista na matéria, vem advertindo sobre a crise climática e pedindo que providências de contenção sejam desde já tomadas. E surgem agora as advertências, registrada por este jornal, de que Ouro Preto, Itabirito e Mariana integram a lista de cidades com riscos elevados de acidentes ambientais, elaborada pela Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil da Presidência da República. As prefeituras informam que já realizam monitoramentos e levantamentos de áreas de risco, com vistorias frequentes e identificação de áreas de risco.
Mas a questão, com a elevação dos índices pluviométricos, entre outros indicadores da crise climática, se agrava a cada dia e não é questão de fácil ou imediata solução. E está a exigir, na opinião de especialistas, ações de maior alcance, com intervenções que possam reduzir efetivamente riscos. E informar moradores em áreas de risco e até a possibilidade de efetiva remoção, evitando enchentes, desabamentos, entre outros perigos apontados em pesquisa efetiva local. Trata-se, enfim, de ação de defesa civil urgente e de larga abrangência, além de custos elevados.
Mas esta é a realidade deste novo mundo. Ou melhor, deste novo planeta terra que, por incúria e exploração indevida do próprio homem, está hoje reagindo. Desproteção de cursos dos rios, elevação de até 1,5% da temperatura do mar, desmatamento da Amazônica e do Cerrado, desproteção dos cursos d’água com destruição de matas ciliares, poluição do ar e destruição da camada protetora do clima e da temperatura, calor excessivo, entre outras causas, não são providências fáceis de conter ou evitar, com resultados rápidos, o que agrava a eminência de novos desastres.
É preciso que as Prefeituras avancem em planos de contingência aplicáveis às áreas de risco já identificadas. E que impeçam novas ocupações em terrenos de geologia instável ou aclividade perigosa, com remoção de proteções naturais da natureza. Esta é uma questão antiga, principalmente em Ouro Preto, cidade tombada em que o crescimento populacional, não tendo opções na malha urbana antiga, se obriga a ocupar encostas e vertentes na Serra do Ouro Preto ou nas fraudas do Itacolomi. São verdades que precisam ser ditadas e devidamente diagnosticadas.
É o que o grave acidente climático do Rio Grande do Sul nos diz. Mas não só ele: vários países em todo o mundo estão tendo ocorrências, reforçando que trata-se de questão mundial, planetária. Ocupantes de regiões de risco, bordas e limítrofes de rios e lagos, encostas perigosas, terão que ser retirados. Mas a conclusão, entre grave e historicamente interessante, é que será necessário um novo planejamento urbanístico, e até construtivo, uma vez que intempéries poderão também vir de furacões, ventos fortes, chuvas excessivas. As cidades crescem e chegam às beiras dos rios e sobem morros, o que precisa ser evitado ou contido, exigindo, no entanto, soluções de difícil aplicação.
Enfim, surge um complexo novo mundo, perigoso e que exige mudanças amplas e urgentes. E por culpa do próprio homem, já sobejamente advertido. E, em meio a tudo isto, resta ainda a preocupação com as questões sociais, ou com o aumento da desigualdade social e o indispensável apoio às populações mais pobres, que são em geral as que ocupam as áreas de risco. O mundo está diante destes dilemas que, se não resolvidos, podem causar inviabilidades à própria presença humana. É o que nos dizem as agências científicas: um novo mundo exige mudanças nas atitudes humanas.
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