O período de estiagem, aliado ao consumo abusivo de água por parte de alguns moradores, resultam em uma época de muita falta d’água na cidade. Somado a tudo isso, ainda há a precariedade do sistema, com grandes problemas na malha de distribuição. A situação é grave e em Ouro Preto já foi decretado estado de emergência, proibindo as condutas abusivas que desperdiçam recursos hídricos.
As reclamações de falta d’água são constantes em várias localidades da sede e de distritos. Em entrevista ao jornal O LIBERAL, o superintendente do Semae, Júlio Corrêa, explica que as sucessivas estiagens reduziram o nível da captação nas principais estações de tratamento de água (ETAs) da cidade. “A captação de Cascata que abastece a ETA Vila Alegre, em Cachoeira do Campo, praticamente secou. O abastecimento dessa região ficou bastante comprometido. Fizemos paliativos com caminhões-pipas. As ETAs estão operando bem abaixo do nível da sua capacidade. A do Itacolomi, por exemplo, que abastece mais de 50% da sede, opera hoje bem abaixo da sua capacidade”, revela o superintendente.
Corrêa explica que independente do período de seca, a autarquia trabalha com manobras para que todos os bairros sejam abastecidos. “O que agrava esse momento é que quando uma rua deveria ser abastecida, eventualmente nós temos problemas na captação, o que impede que a água chegue. Esse controle, de certa forma, é feito pela população, pois dependemos das reclamações que chegam até a instituição para tentarmos resolver o problema com maior rapidez”, pontua.
As partes altas são as mais afetadas pela falta de água. Segundo Corrêa, os bairros Santa Cruz e Caminho da Fábrica são os recordistas de reclamações. Fora da sede são Catete, em Santo Antônio do Leite, Maracujá, Amarantina, Vila Alegre e alguns pontos específicos, como determinadas ruas.
Além da diminuição da água, outro fator que afeta o abastecimento na cidade é o sistema de distribuição. “A malha de abastecimento é muito antiga e está ultrapassada. As tubulações de diâmetros são equivocadas, o material é inadequado para hoje. Tudo isso precisa ser revisto, com urgência. Para mudar a situação é preciso investir, mas não há recursos no momento”, salienta. “As pessoas têm que mudar o conceito de que se tem muita água. Ainda que tivesse, ela não está na torneira e fazer isso custa caro”, complementa.
Segundo o superintendente, há intenção de buscar recursos junto ao governo federal para melhorar o sistema de distribuição. O objetivo é captar mais de R$1 milhão, que serão investidos em projetos para mapear toda a malha de abastecimento. Outra medida avaliada pela atual gestão é a captação de água em dois novos pontos: um em Saramenha de Cima e outro em Santo Antônio do Leite.
Lavras Novas
No distrito de Lavras Novas a falta d’água causa transtorno à população podendo afetar até o turismo. “Há mais de 60 dias estamos sem água. Aqui onde o turismo cresce todos os dias, vemos a tristeza nos olhos dos moradores. Água não cai nas caixas por meses. Grande parte da população idosa carregando baldes de água pelas ruas para fazer comida e se lavarem. Pousadas dispensando hóspedes por não ter como os receber”, lastima uma moradora.
Júlio Corrêa reconhece o problema no distrito e garante que já há ações para minimizar o problema. “Nós perfuramos um poço artesiano e falta apenas interligarmos à caixa d’água. Para isso, estamos contratando uma empresa. Essa ação irá permitir que a caixa fique cheia por mais tempo, garantindo água para mais moradores. Hoje, antes de chegar a caixa d’água, o sistema abastece algumas casas pelo caminho, o que prejudica outros moradores, pois a caixa nunca se completa”, explica.
Apoio da população
Para amenizar o problema é preciso que as pessoas se conscientizem e usem a água de forma adequada. “As pessoas têm que ter uma nova mentalidade e os grandes empreendedores devem investir no reaproveitamento da água de chuva e no reuso. Este é um período que há um rebaixamento do lençol freático. Se quem mora na parte baixa não pensar em quem mora no alto, o problema não pode ser resolvido no momento. É preciso ter a consciência do consumo moderado, de tratar a água de uma forma diferente, se policiar. Se houver desperdício, denuncie”, pede o superintendente.
Júlio Corrêa lembra ainda da importância do pagamento da Taxa Básica de Operação (TBO). Ele destaca que apenas 30% das pessoas cadastradas na autarquia pagam o imposto. “Se não mudar o conceito, não vai ter investimento. O valor arrecadado não cobre 15% dos gastos da instituição”, garante.