Depois de enfrentar a pandemia de coronavírus por um ano, o Brasil ainda está longe de se ver livre da doença. O país vive hoje, segundo cientistas, o momento mais complicado, com sucessivos recordes de mortes diárias e colapso da rede de saúde. Esse longo período de isolamento social, crise econômica, medo e incertezas sobre o futuro teve um forte impacto na saúde mental e psicológica dos brasileiros, afetou a capacidade de dirigir dos nossos motoristas e aumentou os riscos de acidentes e brigas de trânsito. “O Brasil lidera o ranking de países com maior incidência de ansiedade e depressão e após a pandemia essas doenças passaram a atingir uma parcela ainda maior da população. Isso mudou o perfil biopsicossocial dos motoristas. Eles estão mais irritados, violentos, menos atentos e estão cada vez mais doentes. A consequência é o aumento de discussões, brigas e acidentes”, afirma o coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra.
Especialistas que avaliam motoristas diariamente acreditam que esse cenário pode justificar o novo pico de acidentes ocorridos a partir de dezembro de 2020. Um levantamento feito pela Secretaria de Governo do Estado de São Paulo revelou que dezembro foi o mês com maior número de mortes no trânsito. Foram 505 ocorrências, um aumento de 12,6% em relação aos demais meses do ano.
A maior preocupação recai sobre os motoristas profissionais, sujeitos a jornadas exaustivas e privação de sono. O peso e dimensão desses veículos exigem de seus condutores alto índice de atenção para a tomada de decisões rápidas e capazes de evitar tragédias. “Durante as perícias de trânsito, podemos constatar o quanto nossos motoristas estão mais desatentos, impacientes e agressivos. Às vezes precisamos repetir diversas vezes a mesma solicitação. Percebemos mudanças repentinas no olhar e tom de voz, o que demonstra a inabilidade desses condutores em conviver com tamanha carga emocional”, observa Coimbra.
Segundo especialistas da Mobilização, essas avaliações são fundamentais para o diagnóstico precoce de doenças e para identificar os traços de personalidade, como impulsividade, agressividade e ansiedade, que interferem diretamente na capacidade de dirigir de forma segura e podem provocar ainda mais acidentes. “Os principais sintomas decorrentes dos quadros de ansiedade são cefaléia, tremores, irritabilidade, tontura, náuseas, taquicardia, dor no peito e dificuldade de concentração. Tudo isso representa um grande risco não só para o motorista que está dirigindo um veículo, mas para todos nós. É por isso que as entidades médicas defendem a importância da avaliação médica e psicológica de condutores e candidatos somente por Peritos Examinadores Especialistas em Tráfego. Sem esses especialistas, nosso trânsito estaria ainda mais violento”, observa Coimbra.
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